O plano de saúde Prevent Senior ocultou mortes de pacientes que participaram — sem conhecimento — de um estudo para testar a eficácia da hidroxicloroquina e azitromicina contra a covid-19, segundo informações da GloboNews, que teve acesso a um dossiê da CPI da Covid.
Segundo o conjunto de documentos, a disseminação da cloroquina e outros medicamentos é resultado de um acordo entre o plano de saúde e o governo Jair Bolsonaro (sem partido). O dossiê é elaborado por médicos e ex-médicos da Prevent denunciando uma série de irregularidades.
Desde o início da pandemia, o presidente defende o tratamento precoce, sem eficácia comprovada contra a doença. Ainda segundo a GloboNews, pacientes e familiares não eram informados sobre os medicamentos usados.
Em nota enviada ao UOL, a Prevent Senior afirmou que pedirá uma investigação ao Ministério Público para apurar as denúncias “infundadas e anônimas por um suposto grupo de médicos”.
Em nota, a operadora diz que, antes que as acusações chegassem à CPI, uma advogada que representa o grupo de médicos insinuou que o dossiê seria encaminhado se um acordo não fosse celebrado. “Devido à estranheza da abordagem, a Prevent Senior tomará todas as medidas judiciais cabíveis”, informou.
Resultados
As informações divulgadas pela GloboNews trazem que nove pessoas morreram durante a pesquisa, mas, publicamente, os autores só mencionam duas mortes.
Destes, seis estavam no grupo que tomou hidroxicloroquina e azitromicina, dois estavam no grupo que não ingeriu os medicamentos e há ainda um paciente cuja tabela não informa se ingeriu ou não a medicação.
O estudo começou a ser realizado em 25 de março de 2020 e a sua primeira versão, sem revisão de pares, divulgada em 15 de abril. No artigo, o coordenador do estudo, o cardiologista e diretor da Prevent, Rodrigo Esper, menciona as duas mortes no grupo que usou as medicações, mas, diz ele, os óbitos foram provocados por outras doenças, sem relação com a covid ou medicamentos.
Segundo a GloboNews, os documentos da pesquisa não apontam nenhum participante com as doenças mencionadas.
Três dias depois, em 18 de abril, o presidente Bolsonaro fez uma postagem no Twitter sobre o estudo. Citando a Prevent Senior, ele diz que foram registradas cinco mortes entre os pacientes do estudo que não tomaram cloroquina e nenhum óbito entre os que ingeriram as medicações.
Testes escondidos
A GloboNews também teve acesso a mensagens enviadas pelo diretor da Prevent, Fernando Oikawa, para médicos. Ao falar sobre o estudo pela primeira vez ele orienta os profissionais a não informar sobre a medicação usada.
“Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação e nem sobre o programa”, disse.
*Com informações do Portal Uol.