Aumento em casos de Feminicídios no MS faz especialistas emitirem alerta para a sociedade

No início de 2022, com um mês e 10 dias, foram registrados nove casos de feminicídio brutais no Estado de Mato Grosso do Sul. As vítimas passaram por todas as faixas etárias, e os agressores por diversas posições sociais, como marido, filho, genro, colega.

Na Capital, até a sexta-feira (11/02/2022), as vítimas foram Francielle Guimarães Alcântara, que ficou por 30 dias em cárcere privado antes de ser assassinada, e Nara Garcia Freitas, morta pelo marido que era militar da Aeronáutica.

A Secretária Carla Sthephanini, da Subsecretaria de Políticas para as Mulheres (Semu), juntamente com a psicóloga social Márcia Paulina e com a psicóloga Karine Barbosa, fizeram uma reunião, para atualizar as políticas públicas para as mulheres, questões comportamentais do agressor, sinais, e como recorrer nestas situações.

 

Dentre as questões comportamentais observadas por parte do agressor, as mais recorrentes contam com o controle sobre a vítima, e afastamento da mesma de sua família, amigos e sociedade em geral.

“O controle por parte do agressor, vem desde as pequenas coisas. Modifica muitas vezes o que a pessoa é, controlando a cor que pinta a unha, o corte de cabelo. E isso vai se naturalizando como se o homem tivesse o direito de decidir pela mulher, pelo corpo, vontades. E quando falamos de controle, passa tanto por essas questões de direitos e autonomia sobre o próprio corpo, como também as questões do convívio de familiares e amigos”, explica a psicóloga Márcia.

Além disso, Márcia destaca que o ciúme ainda é visto como manifestação de amor e cuidado, mesmo quando ele limita as vontades e escolhas das mulheres. “É fácil confundir relacionamentos abusivos com afeto, carinho e cuidado. Geralmente, um relacionamento não começa com violência, porém, há alguns sinais que as mulheres podem observar”.

Para a psicóloga Karine Barbosa, a violência psicológica é comum e difícil de ser percebida no começo. “A violência psicológica entra na sutileza, por isso num primeiro instante, é difícil ser percebida. Não sabemos como a mulher foi criada, se o pai era um pouco grosso no jeito de falar. A mulher às vezes confunde isso porque é uma coisa que ela já está ‘acostumada’. Então, num menor sinal de controle, agressividade, possessão, é necessário sair do relacionamento. A relação passa a ser de subordinação”, explica.

A Subsecretaria de Políticas para a Mulher atua na gestão das políticas públicas, em uma perspectiva transversal, ou seja, articuladas com as demais políticas públicas e com organismos não governamentais.

O trabalho é desenvolvido em duas frentes, a da promoção da igualdade de gênero e prevenção às discriminações e violências e, como gestora da Casa da Mulher Brasileira, o atendimento às mulheres em situação de violência.

“Dentre os feitos realizados pela Semu, estão as campanhas com ênfase às ações no mês março, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, Agosto Lilás, 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres. Assim como, Cursos de qualificação profissional, implementação de legislações municipais como a Lei Maria da Penha vai à Escola, Lei de Combate ao Machismo nas Escolas. E, no âmbito do atendimento às mulheres em situação de violência, a SEMU é a responsável administrativa da Casa da Mulher Brasileira”, explica a secretária Carla Sthephanini.

A média de atendimentos é de 1.200 mulheres por mês, sendo que aproximadamente 40% delas estão procurando o serviço pela primeira vez e as demais são retornos para os serviços oferecidos.

É importante ressaltar que os atendimentos aos distritos de Anhanduí e Rochedinho, também são contemplados nas ações de prevenção e de promoção da igualdade, com atividades diretamente nos distritos. No âmbito do atendimento à mulher em situação de violência, existe uma articulação com as forças policiais para que as vítimas sejam trazidas para o atendimento na Casa da Mulher Brasileira.

A dependência emocional por parte das vítimas é um dos fatores que dificultam a saída do ciclo da violência. De acordo com a psicóloga Márcia Paulino, a socialização das mulheres ainda é muito voltada para a realização de papéis sociais tradicionais que colocam a mulher numa posição de opressão e submissão.

As mulheres não são educadas para a autonomia emocional e muitas vezes acabam acreditando que precisam de um homem ao lado para se sentirem seguras, protegidas, completas. Essa carga social faz com que se sintam responsáveis pela mudança do parceiro, pelo sucesso no relacionamento, o que, dentre outros fatores, faz com que elas não consigam se desvencilhar do relacionamento abusivo e violento”, explica.

Para Karine, nos últimos dias a mulher vem se empoderando mais, lutando pela independência financeira e emocional, mas que é necessário romper o ciclo de violência, seja ela em qualquer âmbito, antes que chegue às ameaças, e a tragédia.

“A violência doméstica tem um ciclo, pesquisas que apontam que as vezes, mulheres demoram sete anos para conseguir romper esse ciclo. E ele envolve etapas onde o agressor inicia com violência psicológica, física, até partir para as ameaças de morte. É necessário buscar atendimento psicológico, psicossocial, e a Casa da Mulher Brasileira ajuda nesta questão. É muito importante fazer esse acompanhamento, para romper esse ciclo”, explica a psicóloga.

Em relação aos familiares das vítimas, a Subsecretaria destaca que tanto a violência doméstica e familiar quanto o feminicídio são traumáticos. No início deste ano, dentre os nove casos, alguns, envolvem a presença dos filhos (as) das vítimas no ato, como o de Mariana Lima, 29, que foi assassinada a machadadas na frente da filha de quatro anos, em Anastácio, a 140 km da Capital.

“É muito difícil para familiares lidarem e superarem um acontecimento tão brutal como o feminicídio. Nesse sentido, por iniciativa do Ministério Público Estadual, foi criado o Programa Acolhida e firmado Termo de Cooperação Técnica com a Prefeitura Municipal de Campo Grande, que visa o atendimento integral aos familiares de vítimas de homicídios, incluindo os feminicídios. Estão envolvidos nessas ações as Secretarias de Saúde, Assistência Social e Educação”, explica Carla.

Também, é possível utilizar das Clínicas Escolas para atendimentos psicológicos, das faculdades como a Universidade Anhanguera Uniderp, Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). “Essas crianças precisam de um acompanhamento psicológico até mesmo para evitar que este comportamento se repita no futuro”, comenta a psicóloga Karine Barbosa.

“Uma questão muito importante em todo este trabalho, é que devemos evitar o pré-julgamento em relação à vítima. Temos que dar palavras positivas, entender o momento, orientá-la, mas não pré-julgar. Precisamos alertar, que ao se submeter, ao se expor a um relacionamento abusivo, em que sofre violência, o final da história pode ser trágico. Mas, temos que lembrar, que a princípio, estamos falando de uma relação de ‘afeto’ onde estão envolvidas emoções”, finaliza Carla Stephanini.

Serviço:

A Casa da Mulher Brasileira oferece serviços especializados de atendimento às mulheres e funciona 24 horas por dia, durante os sete dias da semana. Dentre eles, recepção, acolhimento e triagem, assim como apoio psicossocial e psicossocial continuado, brinquedoteca, delegacia especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), promotoria de justiça; defensoria pública; 3ª vara especializada de violência doméstica e familiar contra a mulher; serviço de autonomia econômica (FUNSAT); alojamento de passagem; central de transportes e patrulha maria da penha.

 

 

 

cmb

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