A China voltou a ficar sob forte pressão com o registro de novos casos de Covid-19, aponta a Consultoria TF Agroeconômica. O gigante asiático adotou uma política “Zero-Covid” e decretou lockdown em diversos pontos do país – mas prometeu “ajuda financeira” para os setores mais atingidos.
A China registrou 4.130 novos casos locais de Covid-19 apenas na última quinta-feira, 17 de março, além de um pico de 5.154 casos na terça-feira, 15 de março. As autoridades chinesas estimaram que cerca de 90% dos casos são a variante Omicron BA.2, que é altamente infecciosa. A maioria dos novos casos é assintomática e detectada em testes em massa, o que vem sendo um desafio à política Zero-Covid-19.
“Para nós isso é importante porque afeta diretamente o consumo de alimentos, e por tabela a soja”, afirma o analista sênior da TF Agroeconômica, Luiz Pacheco. Confira o que os chineses estão fazendo e como isso pode afetar o seu negócio:
*INDÚSTRIA DE RESTAURANTES/ESCOLAS: A indústria de restaurantes na China continua lutando com os bloqueios do Covid-19, o que está reduzindo o consumo geral de alimentos. A Shenzhen Culinary Association pediu ontem ajuda financeira, linhas de crédito e reduções ou perdões de alugueis atrasados. Grandes cadeias de restaurantes anunciaram paralisações por um mês, zero faturamento, zero consumo. Escolas também estão fechadas, zero consumo de merendas, importante seguimento no consumo de carnes e óleos. Eventos do governo também estão parados, importante fonte de receita do food service.
*QUEDA NA DEMANDA POR ÓLEOS E CARNES: O efeito de tudo isso é queda na semana para os óleos e carne suína. O suinocultor na China encerrou a semana com perdas de $60 por cabeça de animal abatido. A relação de troca suíno-milho está abaixo de 1 para 5, índice considerado crítico pelo USDA chinês. Na soja, a China comprou muito pouco nessa semana. Traders falam em 15 barcos contra média das últimas duas semanas de 25 barcos. Mas isso só agrava a situação dos estoques e o inverso das curvas de preços do farelo e do óleo.
*MOTORISTAS: Para a cadeia da soja e do milho a situação também está difícil. Motoristas de caminhão é uma das comunidades na mira das autoridades de saúde. Nessa semana um motorista carregando farelo foi testado positivo em um teste em massa, levando ao fechamento da fábrica em Shandong. Os motoristas não estão podendo levar milho das províncias do vale da ferrugem para a parte central e Sudeste do país. Será que os consumidores do Sul têm milho? Se a resposta for não, talvez a China tenha que comprar mais milho nos EUA. Ontem o USDA reportou vendas de 200 mil toneladas para China para 22-23. Nesse caso eu acho que é mais como uma PUT Ucrânia – em caso de redução da exportação. Eu diria que essa PUT está dentro do dinheiro.
*ESTOQUES APERTADOS: A China está com estoques extremamente apertados, porém os futuros do farelo e do óleo não sobem na DCE – Bolsa de mercadorias de Dalian. As curvas dos futuros em Dalian continuam muito invertidas. Qual a melhor estratégia para as processadoras? Comprar da “mão pra boca”. É isso que elas têm feito, aproveitando as margens contra seu mercado spot que está muito descolado em relação à bolsa. Os estoques de farelo e óleo são mínimos, assim como o processamento. Me pergunto o que os suínos e frangos na China estão comendo. Acredito cada vez mais que realmente a China está substituindo farelo por alguma outra proteína, ou uma combinação de múltiplas estratégias como redução do peso de abate, aumento do uso de aminoácidos sintéticos e redução do percentual de proteína no geral.
*MILHO VERSUS FARELO DE SOJA: Outro debate interessante é o valor do milho em relação ao farelo na China. O milho sempre foi muito mais caro. Atualmente o farelo está ficando muito caro em relação ao milho, o que reforça a redução do uso de proteína e aumento do uso de energia – compensado com mais lisina. Por tabela também devem estar reduzindo a quantidade de óleo nas rações. No tempo isso poderia reduzir os estoques internos de milho, o que eu acredito.
cci