Pressionados pela alta dos custos, acentuada no último mês como consequência da guerra na Ucrânia, produtores de suínos e ovos passaram a reduzir suas ofertas em uma tentativa de elevar os preços de venda e diminuir os prejuízos que foram acumulados nos últimos dois anos. A medida deve dificultar – ainda mais – a vida do consumidor, que enfrenta uma inflação de 11,3% nos últimos 12 meses.
Desde o início da pandemia, a cotação do milho, uma das principais matérias-primas da atividade, avançou 71%. Enquanto isso, o preço no atacado da caixa de ovos comercializada em Bastos (SP), cidade que é a maior produtora de ovos do País, aumentou 36%. No caso da carne de porco, a situação é ainda mais delicada: o valor médio pelo quilo pago ao produtor em cinco Estados subiu 18%.
A analista Juliana Ferraz, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea-Esalq/USP), explica que, para os produtores de suínos, há uma dificuldade de repassar a alta nos custos porque a carne é tida como produto intermediário, nem caro nem barato.
Isso significa que, quando a carne bovina encarece, os consumidores não recorrem à de porco, mas à de frango. “Os preços do suíno acabam ficando muito voláteis e é mais difícil fazer o repasse”, diz Juliana.
Preço da ração
Segundo ela, a suinocultura vive uma das piores crises da história, com produtores tendo prejuízos há mais de um ano. Entre as principais dificuldades enfrentadas pelo setor está o preço da ração. Do total do custo de produção, 70% é com milho e farelo de soja.
O suinocultor Fernando Haidemann Esser, de Santa Catarina, conta que, antes da pandemia, pagava R$ 45 na saca de milho e R$ 1,20 no quilo do farelo de soja, também usado na alimentação animal.
Em março, chegou a pagar R$ 105 e R$ 3,10, respectivamente. Sem conseguir repassar essa alta, diminuiu o número de matrizes de 600 para 400. “A cada ano eu renovava metade do plantel. Desde agosto passei a reduzir. Minha reserva financeira acabou. Não tenho mais como fazer reposição”, diz. “Antes da guerra, a alimentação já estava cara, mas tinha perspectiva de que os preços começassem a cair. Com a guerra, ficou mais difícil.”
Segundo o presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos, Losivanio de Lorenzi, o prejuízo dos produtores da região hoje é de R$ 1,10 por quilo de carne e deve se manter por mais um ano, período em que os custos estarão pressionados e ainda haverá excedente de carne suína no mundo.
A oferta da proteína tem crescido globalmente desde 2019, quando a peste suína africana dizimou o plantel da China. Produtores de todo o mundo ampliaram suas ofertas de forma desordenada para atender o mercado oriental.
Ovos
O setor de ovos também tem registrado perdas. Segundo o Sindicato Rural de Bastos, com o aumento no preço das commodities desde 2020, o custo para produzir uma caixa de 30 dúzias alcançou R$ 200, enquanto o preço de venda ronda os R$ 140.
Cristina Yabuta, diretora da entidade, reconhece que houve alta de 40% no preço de venda apenas neste ano, mas afirma que, ainda assim, não foi suficiente para cobrir os custos.
Segundo Cristina, diante do prejuízo, os produtores passaram a mandar as galinhas para o frigorífico e, assim, o número de aves destinadas à produção de ovos caiu de 12 milhões em 2020 para 8 milhões. “Nunca imaginamos que teríamos tanto prejuízo. Cada galinha é um rio de custos sangrando. E, para nosso consumidor, que é a base da pirâmide, também não está barato”, afirma.
Com três granjas em operação em Bastos, Jorge Miyakubo precisava comprar 27 mil pintinhos a cada dois meses para manter o nível de produção. Agora, reduziu para 21 mil. “Tive de diminuir porque, quanto mais ração, mais prejuízo. Não estou repondo o total para ver se os preços melhoram.”
Cristina afirma que o equilíbrio entre custo e preço de venda só deve ser atingido quando houver redução ainda maior no número de aves. Isso deve levar cerca de um ano para ocorrer, dado que, ao contrário do ciclo da carne de frango, o do ovo é longo. São ao menos seis meses para a galinha botar os primeiros ovos e, a partir daí, mais 70 semanas produzindo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.