O eleitor brasileiro está insatisfeito com o trabalho dos atuais deputados e senadores e quer uma alta renovação no Poder Legislativo em outubro. Esse mesmo eleitor, no entanto, não se lembra em quem votou em 2018 para o Congresso e reprova a atuação dos parlamentares. É o que mostra uma pesquisa eleitoral elaborada pela Quaest a pedido do RenovaBR: 86% dos eleitores consideram bom que ocorra uma “alta renovação” nos quadros do Parlamento nestas eleições.
A se concretizar o cenário apontado pela pesquisa, a eleição para o Congresso deste ano poderá repetir a de 2018, quando Câmara e Senado tiveram a maior renovação desde a redemocratização do País. A manifestação dos eleitores reforça a percepção de que o brasileiro não costuma dar a devida atenção ao voto proporcional, com as campanhas políticas se concentrando na escolha pelos candidatos a presidente da República e a governador do Estado.
O desprestígio manifestado em relação ao voto para o Congresso ocorre num cenário em que a Câmara e o Senado têm cada vez mais poder. As Casas assumiram controle sobre repasses de recursos federais, indicando verbas diretamente para redutos por meio do chamado orçamento secreto.
“Tem uma característica da cultura política brasileira de ser personalista. O que significa que a gente valoriza demasiadamente as pessoas, em detrimento de questões mais estruturais. Quando a gente pensa numa eleição, é muito comum lembrar o nome do prefeito, do governador e do presidente. Os chefes do Executivo acabam atraindo a atenção do eleitor. Vereadores, deputados e senadores não têm esse poder de atração. O eleitor acaba menosprezando a representação do Legislativo”, disse o cientista político Rodrigo Prando, professor do Mackenzie.
Trabalho
Ainda segundo a pesquisa, a maioria dos eleitores acompanha muito pouco o trabalho do Congresso: 55% declararam não saber o que faz um deputado, ante 44% que disseram saber como atua o congressista na Câmara. E dois em cada três eleitores (66%) afirmaram não se lembrar em quem votaram para deputado em 2018. A pesquisa foi às ruas entre os dias 8 e 12 de junho. Foram ouvidas 1.544 pessoas, nas cinco regiões do Brasil. A margem de erro é de 2,5 pontos porcentuais, e o intervalo de confiança é de 95%.
Os mais jovens são os que menos parecem dar importância ao voto para o Legislativo. Só 9% se recordam como votaram para deputado, na faixa entre 16 e 30 anos (outros 58% não se lembram e 32% declaram ter votado em branco, nulo ou não ter ido votar em 2018). Nas outras duas faixas etárias, de 31 a 50 anos e de mais de 50 anos, 17% se lembram em quem votaram para deputado em 2018. Dos eleitores que estudaram até o ensino fundamental, 72% não se recordam de sua escolha. As mulheres se lembram menos (72%) do que os homens (59%).
Embora seja fundamental para definir o cenário político a partir de 2023, a disputa para o Congresso ainda não preocupa os eleitores – 85% ainda não decidiram sobre o candidato a deputado. Quase metade (47%) definirá o voto para a Câmara com pelo menos um mês de antecedência; 12% vão deixar a escolha para 15 dias antes; e mais de um terço (36%) declarou que só pensará no assunto na última semana antes do primeiro turno.
Recall
Se o eleitor não acompanha o dia a dia do Congresso, por que deseja renovar o Legislativo? “É exatamente porque as pessoas não têm nenhum tipo de identidade com o Congresso que elas gostariam de ver algo diferente. A falta de recall (dos deputados federais) é um sintoma da baixa relação de confiança que as pessoas têm com o Congresso. A consequência disso é a busca de um Legislativo melhor”, disse ao Estadão/Broadcast o cientista político Felipe Nunes, que é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor da Quaest.
“O fato de a grande maioria dos brasileiros não ter a menor ideia de quem votou mostra como a eleição para o Congresso é uma eleição fria para a população, que a maioria não dá maior importância. Quando, na verdade, tem muita importância. O poder está cada vez mais concentrado no Congresso Nacional”, afirmou Nunes.
Perfil
A principal característica buscada pelos eleitores em seus deputados é a de que os candidatos sejam “honestos” e “cumpram as promessas” – 47% apontaram esses critérios. Em seguida vem o fato de o político estar “preparado” e “conhecer as políticas públicas”, com 36%. Trazer recursos para a cidade é considerado importante por 10% dos eleitores. “Para nós, este perfil do ‘candidato ideal’ foi o que mais chamou a atenção”, disse a diretora executiva do RenovaBR, Irina Bullara.
A pesquisa apontou ainda que o principal “cabo eleitoral” na disputa pela Câmara é a família: 22% disseram “considerar muito” a opinião de parentes na hora de decidir o voto.
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