Uma história emocionante. Os gêmeos siameses Arthur e Bernardo Lima, de 3 anos, nasceram unidos pela cabeça, compartilhando um pedaço do cérebro e a principal veia que leva o sangue de volta ao coração. Tratando-se de um caso muito raro e gravíssimo, após nove cirurgias, agora os irmãos vivem separados. Mesmo com poucos anos de vida, os meninos enfrentaram o procedimento extremamente complexo, bancado pelo SUS.
Os pais Adriely e Antônio, de Boa Vista, Roraima, já tinha duas filhas, quando a mulher engravidou pela terceira vez, e já no primeiro ultrassom, veio o baque. “Eles falaram que era uma coisa estranha. Não eram exatamente duas crianças perfeitas. Uma cabeça com dois corpos”, lembrou o pai.
Com seis meses de gestação, Adriely começou a se sentir mal e acabou transferida para o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, no Rio de Janeiro. No hospital, ligado à Fiocruz, Bernardo e Arthur nasceram unidos pelo crânio e pelo cérebro.
Em setembro de 2019, os gêmeos completaram um ano e não conheciam outro ambiente senão o hospitalar. Arthur e Bernardo compartilhavam cerca de 15% de cérebro e dividiam também uma veia grande e muito importante que conduzia o sangue de retorno aos corações dos dois.
A primeira cirurgia foi batizada de cirurgia do medo, do desconhecido. As seguintes foram acontecendo com intervalos de três a quatro meses para ir desconectando, aos poucos, a veia do cérebro de um dos irmãos e dar tempo desse cérebro recompor as veias do seu sistema circulatório que, de acordo com médicos, se regenera muito rápido.
Ao longo de mais de três anos de internação, a equipe médica fez inúmeras ressonâncias magnéticas e tomografias nos gêmeos para tentar entender a estrutura cerebral tão diferente e as veias que eles compartilhavam. Mas as imagens, somente, não eram suficientes. Foi aí que os neurologistas decidiram fazer modelos cerebrais em 3D e essas réplicas foram fundamentais durante as cirurgias.
A médica pediatra Fernanda Fialho destaca os desafios após as cirurgias. “A gente queria que eles aprendessem a andar, a desenvolver a linguagem, eles estavam no hospital e os instintos são precários. Mas a gente colocava eles no chão, cortou o cabelo deles, fez festa de aniversário, ensinou eles a falar… A gente se sente parte da família”, destacou a médica.
Ao todo, foram nove cirurgias e a última durou 23 horas, cercada de muita tensão e apreensão. E os irmãos saíram do centro cirúrgico separados. “Eles já passaram por tanta coisa, já sofreram tanto. Eles são muito guerreiros. Nosso coração é só gratidão”, afirmou a mãe dos gêmeos.
“O maior sonho é ver eles recuperados, com saúde e até com uma vida social como as outras crianças. Poder estudar, poder jogar bola”, destacou o pai.
g1