A poucos dias da eleição presidencial, o PDT vive uma série de dilemas: insistir na candidatura de Ciro Gomes, resistindo aos apelos pelo “voto útil” e tentar uma virada fora da curva para tentar chegar ao segundo turno das eleições; ou desde já traçar um plano para um eventual segundo turno entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Há ainda a cobrança por um apoio claro ao ex-presidente petista contra o atual ocupante do Planalto em caso de um eventual segundo turno versus a declaração de neutralidade na disputa.
A CNN conversou com diversos pedetistas com mandato e com quem esteve ao lado de Leonel Brizola na fundação da legenda em 1979, em pleno começo da abertura política do país durante a ditadura militar.
Mesmo entre os que seguem na linha de frente da defesa da candidatura de Ciro, há uma avaliação de que o tom da campanha, sobretudo os ataques constantes feitos ao ex-presidente Lula, não contribuiu para que o pedetista conseguisse avançar sobre eleitores do PT e de Bolsonaro, ou mesmo para conseguir pelo menos dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto.
Hoje a campanha já olha para o retrovisor com preocupação de ser ultrapassada por Simone Tebet (MDB), candidata que está em quarto lugar na corrida ao Planalto, de acordo com o agregador de pesquisas CNN.
Na última segunda-feira (12), a CNN mostrou que integrantes do PDT, sobretudo alguns do Rio Grande Sul, defendem que o partido fique neutro em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro.
A avaliação é de que o partido poderia perder filiados que chegaram à legenda junto com Ciro, em virtude do grande desgaste dele com o PT. Mas a ideia é rechaçada sobretudo pelos integrantes históricos da legenda de Brizola. Fontes da reportagem reclamaram do tom de Ciro e da possibilidade de que seu discurso esteja contribuindo para afastar a legenda do ideário histórico do PDT, mais ligado à esquerda.
“O PDT precisa ter responsabilidade. Bolsonaro envergonha o país, O PT despolitizou a campanha deste ano, mas Brizola nunca admitiria qualquer tipo de neutralidade”, afirma Manoel Dias, secretário-geral do PDT e presidente da Fundação Leonel Brizola. À CNN, ele declarou voto em Lula no segundo turno. Teremos uma pequena votação, mas poderemos dizer que Ciro é o único que não se misturou com o que está aí”, afirmou.
Três dias depois do primeiro turno de 2018, o PDT declarou “apoio crítico” a Fernando Haddad (PT) na disputa contra Bolsonaro. A CNN apurou que há, no PDT, quem defenda a mesma saída neste ano, caso haja segundo turno — efeito da pregação aberta do PT pelo “voto útil” nas últimas semanas, ou seja, a ideia de que só Lula pode vencer Bolsonaro, e que o eleitor de Ciro que desejar a saída do atual presidente deve, desde já, votar no PT.
As críticas aos petistas por conta dessa estratégia são muitas. “Despolitizaram a eleição”; “são autoritários igual ao Bolsonaro”, relataram integrantes do PDT à reportagem nos últimos dias. Quem conhece Ciro garante que a chance de ele e Lula dividirem um mesmo palanque neste ano é impossível, e que não há chance de uma mudança no rumo da campanha nesta reta final antes do primeiro turno.
Em meio ao racha e ao desânimo, o presidente do PDT, Carlos Lupi prega unidade em torno de Ciro. Ele diz que “voto útil é voto inútil” e, em mensagem disparada nas redes sociais nesta terça (20), afirmou que os aliados de Ciro que migraram para Lula são “mais frágeis”. “Eu quero lembrar Brizola: ‘a política, a mídia poderosa, os políticos tradicionais adulam e adoram traidores, mas a história os abomina”, afirmou, em prenúncio de que a crise está longe do fim.
cnn