A guerra Rússia X Ucrânia jogou luz há alguns meses sobre a questão da forte dependência do Brasil em relação à importação de fertilizantes e a necessidade de o país resgatar projetos de exploração de minerais para esse setor. Após um longo processo de consultas a empresas, entidades e representação setorial do segmento de fertilizantes, um importante passo foi dado pelo Governo Federal com o lançamento do Plano Nacional de Fertilizantes, que traz propostas e metas a serem atingidas até 2050. O assunto foi tema de um dos painéis do Congresso Brasileiro de Mineração, realizado pelo Ibram em setembro passado, quando especialistas, autoridades e empresários do setor traçaram um panorama sobre o atual momento da indústria de fertilizantes.
Moderando as apresentações, Arthur Liacre, vice-presidente de Assuntos Corporativos, Estratégia e Sustentabilidade da Mosaic Fertilizantes, ressaltou o fato de que o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo (atrás da China, Índia e Estados Unidos) e que sua dependência externa é de 90% – “fato preocupante, uma vez que a demanda nacional cresceu de maneira muito intensa nos últimos 25 anos, acompanhada de uma dependência externa que chegou a níveisinsustentáveis”. Ele ressalta que o crescimento médio do consumo de fertilizantes no Brasil ficou em 4%, enquanto que no resto do mundo essa média foi de 2% e a produção nacional, que 25 anos atrás era de 65% da demanda, hoje não passa de 10%.
Olhando para o outro lado da equação, os 10% de produção nacional vem de empresas brasileiras, que hoje representam 30 mil empregos e investimentos na casa dos U$ 6,5 bilhões em ativos de produção nos últimos 7/8 anos. “São 20 operações distribuídas em 10 estados, o 4º maior segmento da indústria química e 5º maior segmento da indústria de mineração, ressaltando que o segmento conecta, da mina ao campo,setores absolutamente estratégicos da economia brasileira e que as empresas não deixaram de investir em modernização, para tornar as operações cada vez mais competitivas para atender parcialmente à demanda brasileira por fertilizantes NPK”, prossegue Liacre.
O terceiro ponto levantado por ele é que, a partir de 2050, o mundo comportará cerca de 10 bilhões de pessoas e a produção de alimentos terá que ser acelerada – “mais do que dobrar” – e poucos países no planeta têm condição de garantir a produção de alimentos, atendendo ao desafio sistêmico da segurança alimentar. O Brasil, obviamente, ocupa papel central, diz Liacre: “hoje é responsável pela produção de alimentos para entre 850 milhões a 1 bilhão de pessoas e em 2050 seu protagonismo será ainda maior. Esse elo da cadeia do agro, que é o setor de fertilizantes, com o atual nível de dependência externa de insumos, terá que achar soluções para a produção interna e consolidar a capacidade do Brasil de ajudar o mundo a produzir os alimentos de que necessita”.
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