Agosto de 2023 já está marcado na história do agro brasileiro, por uma transação de alto impacto no mercado frigorífico brasileiro, com a Minerva anunciando a aquisição de 16 unidades de abate e desossa de bovinos e ovinos da Marfrig, uma operação avaliada em mais de R$ 7 bilhões. Esse negócio tem agitado não apenas o setor agropecuário, mas também a bolsa de valores, revelando as estratégias que as empresas pretendem seguir no futuro.
Os ativos adquiridos pela Minerva estão concentrados na América do Sul e compreendem 11 plantas no Brasil, três no Uruguai, uma na Argentina e outra no Chile. Para financiar essa operação, a Minerva desembolsou R$ 1,5 bilhão com recursos próprios e obteve um financiamento adicional de R$ 6 bilhões por meio de uma linha de crédito em parceria com o banco americano J.P. Morgan. O valor total da transação é de R$ 7,5 bilhões, a ser pago após a aprovação dos órgãos regulatórios, incluindo o CADE.
Com a aquisição dos frigoríficos da Marfrig, a Minerva expandirá sua capacidade de abate de gado em impressionantes 44%, totalizando 42 mil cabeças por dia, o que a coloca como a segunda maior empresa do setor em abate, atrás apenas da JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. O número de plantas da Minerva passará de 29 para 45, e a empresa pretende aumentar sua produção atual em mais de 116%, atingindo 2,6 milhões de toneladas por ano.
As intenções da Minerva e da Marfrig nesse negócio são claras: enquanto a Minerva busca impulsionar as exportações de carne bovina in natura, a Marfrig pretende mudar sua imagem de frigorífico tradicional para uma empresa de alimentos focada em produtos de maior valor agregado, como hambúrgueres e produtos da BRF, detentora de marcas como Sadia e Perdigão.
De acordo com especialistas do setor e analistas do mercado, essa estratégia já estava sendo delineada desde 2018 e ganhou força nos últimos meses, culminando com a Marfrig aumentando sua participação acionária na BRF através de uma oferta de ações de R$ 5,4 bilhões em julho deste ano. Como resultado, a BRF passou a ter dois acionistas com mais de 50% do capital – a Marfrig e o fundo saudita Salic.
Hugo Queiroz, especialista em investimentos e diretor de Corporate Advisory da L4 Capital, aponta que, apesar de as mudanças na cadeia de mercado não serem imediatas, o movimento da Minerva representa uma concentração de forças na cadeia bovina, com a JBS sendo o último grande competidor na América Latina.
Por outro lado, Max Mustrangi, especialista em reestruturação de empresas e CEO da Excellance, destaca que a ampliação da escala de produção é o grande trunfo da Minerva com essa aquisição. Isso permitirá que a empresa tenha um poder de compra maior no mercado e, consequentemente, uma posição mais favorável em negociações com os produtores de gado, resultando em preços mais competitivos.
Entretanto, é importante notar que esse movimento no mercado também levanta preocupações, especialmente para os criadores de gado, que podem sofrer com a pressão sobre os preços e enfrentar desafios ainda maiores.
Além disso, a transação é vista como benéfica para ambas as empresas, segundo um relatório do banco Citi. Para a Marfrig, a operação permitirá um foco maior no mercado americano de margens mais altas e no negócio da marca brasileira (BRF), com margens estruturais superiores. Já a Minerva tem a oportunidade de expandir suas vendas, duplicar sua presença na América do Sul e melhorar sua posição no mercado global de proteína animal.
Uma das metas centrais da Marfrig com essa operação é reduzir sua alavancagem financeira, reduzindo sua dívida. A alavancagem, que envolve o uso de recursos para multiplicar resultados.