Irmãos usaram empresa sem funcionário para torrar R$ 8,3 milhões na compra de sete imóveis

Empresários investiram R$ 5,2 milhões na compra de sala comercial no Jardim dos Estados, conforme o GECOC (Foto: Arquivo)

Logo após serem soltos pelo desembargador Emerson Cafure, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, os irmãos Lucas de Andrade Coutinho, 33 anos, e Sérgio Duarte Coutinho, 37, usaram uma empresa sem funcionários, sem veículos e sem sede própria para torrar R$ 8,3 milhões na compra de sete imóveis. Conforme o Ministério Público Estadual, a estratégia era a lavagem da fortuna oriunda da corrupção.

Os empresários usaram a Santorini Incorporações e Participações para a ocultação do dinheiro proveniente do desvio das secretarias estaduais de Educação e de Saúde e do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian. Apesar de ter sido constituída para a construção de edifícios, a construtora não tem, até o momento, nenhum prédio construído no  portfolio para ser apresentado ao mercado.

Lucas e Sérgio foram presos na primeira fase da Operação Turn Off, deflagrada pelo GECOC (Grupo Especial de Combate à Corrupção) no dia 29 de novembro do ano passado. O desembargador Emerson Cafure, do TJMS, concedeu habeas corpus e revogou a prisão preventiva dos empresários no dia 2 de dezembro de 2023.

Doze dias depois, eles deram início à estratégia de lavagem do dinheiro, ou seja, reintroduzir no mercado o dinheiro obtido por meio dos contratos superfaturados com o poder público. No dia 14 de dezembro de 2023, a Santorini comprou lotes no condomínio de luxo Alphaville, localizado na saída para Cuiabá, por R$ 970.775.

No dia 21 de dezembro passado, 19 dias após deixar a cadeia, a empresa comprou uma loja no Condomínio Edifício Class Power por R$ 5,2 milhões. No dia 3 de janeiro deste ano, os irmãos recorreram a construtora para adquirir duas unidades no Centro Comercial Jardins por R$ 2,5 milhões.

“Passaram a promover reiterados crimes de ocultação e dissimulação da origem, localização, disposição e movimentação de bens e valores provenientes diretamente de infrações penais cometidas por eles, o que foi intensificado no decorrer do presente ano, inclusive com a reinserção de valores obtidos ilicitamente na economia formal por meio de aquisição de diversos imóveis em nome da empresa Santorini Incorporações e Participações em nome dos irmãos”, destacou o juiz Eduardo Eugênio Siravegna Júnior, da 2ª Vara Criminal, no despacho que decretou a prisão preventiva dos empresários.

Sérgio e Lucas Coutinho foram presos na última quinta-feira (6) com a deflagração da 2ª fase da Operação Turn Off. Um dos empresários chegou a ser preso após uma perseguição cinematográfica na Avenida Afonso Pena em frente ao Shopping Campo Grande.

No entanto, a lavagem do dinheiro começou logo após a abertura do inquérito pelos promotores do Patrimônio Público, Adriano Lobo Viana de Resende, coordenador do GECOC, e Humberto Lapa Ferri. Conforme ações protocoladas na Justiça, o MPE já reuniu provas e indícios sobre o desvio de R$ 48 milhões.

Logo após ser convocado para depor sobre os desvios, Lucas de Andrade Coutinho começa a procurar interlocutores para revelar a intenção de se desfazer do patrimônio. Em conversa com o empresário G.F. de F., ele negocia a venda de uma casa no Alphaville e diz que está passando todo o patrimônio para a holding Santorini.

Em outra conversa, ainda em março de 2023, ele revela que a construtora tem R$ 8 milhões em caixa, sendo metade para cada irmão. A estratégia de Lucas, conforme as interceptações feitas pelo GECOC, era só ficar com a casa e uma chácara em seu nome.

Para a esposa, Nathália Albaneze Anache, ele transferiu os veículos, como uma Fiat Toro e duas caminhonetes Hilux. O MPE anexou uma conversa entre o casal, no qual o empresário conta que pretendia passar para o nome da mulher mais uma caminhonete e um apartamento. Em conversa com Wagner Storer, do Posto Parada 67, ele negociou um Jeep Compass. Em mensagens de aplicativo, ele desta que precisava tirar o veículo do nome.

As empresas rés por desvio dos cofres públicos na venda de produtos hospitalares e de uniformes para o Governo estadual passaram a fazer transferência de altas quantias para a construtora sem funcionário sem prédio.

Em 28 de dezembro de 2022, a Maiorca Soluções em Saúde, alvo da Operação Parasita, repassou R$ 3,5 milhões para a Santorini. No dia seguinte, no dia 29 de dezembro de 2022, a Comercial Isototal, ré pelo superfaturamento na compra de uniformes pelo Estado, repassou R$ 3,5 milhões para a construtora. Nos dias 11 e 21 de agosto e 27 de setembro do ano passado, a Comercial Isototal repassou mais R$ 1,3 milhão para a Santorini.

Os promotores pediram a prisão dos irmãos para garantir a ordem pública e a instrução criminal. O pedido foi aceito pelo juiz Eduardo Eugênio Siravegna Júnior, da 2ª Vara Criminal.

 

 

oj

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