Na denúncia oferecida pelo Ministério Público contra o prefeito (afastado) de Terenos, Henrique Budke (PSDB), e outras 25 pessoas, é relatado que o grupo agia na certeza da impunidade. Isso porque, mesmo após o Gaeco deflagrar a operação Velatus, em agosto de 2024, os investigados fecharam R$ 16,5 milhões em contratos — e aditivações de outros já firmados.
A Operação Spotless revelou que licitações de obras públicas eram direcionadas, e empresas se revezavam nos serviços, garantindo que o grupo se beneficiasse do esquema, que incluía pagamento de propina ao prefeito e outros citados.
Assim, conforme o Gaeco, nos 11 contratos levantados pela investigação, houve pagamento de “elevados valores em propinas a agentes públicos, especialmente o prefeito municipal”. Somente Henrique teria embolsado mais de R$ 611 mil em propinas.
Para os investigadores, Henrique transformou a Prefeitura de Terenos em um verdadeiro ‘balcão de negócios’.
O esquema era tão forte, que os integrantes agiam numa espécie de irmandade. Vale ressaltar que cinco dos dezesseis presos faziam parte da mesma loja maçônica de Terenos, incluindo o prefeito Henrique.
Primeiro, que os próprios empreiteiros elaboravam documentação da licitação e cada um tinha até projetos de empresas concorrentes consigo.
Além disso, eles se ajudavam para ‘barrar’ eventuais concorrentes, conforme demonstrado em diálogo atribuído pelo Gaeco a Tiago Lopes de Oliveira, ex-chefe de gabinete do prefeito: “Aí no dia da licitação veio 8 caboclo aí a gente tem que segurar lá fora a turma aí a gente conta com a parceria dos meninos de Terenos“.
Ao pedir a condenação dos envolvidos, o Gaeco resumiu o que apurou nas investigações: “E o que se apurou na investigação. É uma organização criminosa instalada no Poder Executivo do Município de Terenos atuando há anos para fraudar licitações e saquear os cofres públicos, um verdadeiro balcão de negócios comandado pelo Prefeito Municipal“.

Confira a lista dos 26 denunciados por corrupção em Terenos
- Henrique Budke (PSDB), prefeito afastado de Terenos
- Arnaldo Glagau (PSD), atual vereador e empresário
- Arnaldo Santiago, empresário
- Cleberson José Chavoni Silva, empresário
- Daniel Matias Queiroz, empresário
- Edneia Rodrigues Vicente, empresária
- Eduardo Schoier, empresário
- Fábio André Hoffmeister Ramires, policial militar e empresário
- Felipe Braga Martins, empresário
- Fernando Seiji Alves Kurose, empresário
- Genilton da Silva Moreira, empresário
- Hander Luiz Correa Grote Chaves, empresário
- Isaac Cardoso Bisneto, ex-secretário municipal de Obras e Infraestrutura
- Leandro Cícero de Almeida Brito, engenheiro
- Luziano dos Santos Neto, empresário
- Maicon Bezerra Nonato, servidor público municipal
- Marcos do Nascimento Galitzki, empresário
- Nádia Mendonça Lopes, empresária
- Orlei Figueiredo Lopes, comerciante
- Rinaldo Córdoba de Oliveira, empresário
- Rogério Luís Ribeiro, empresário
- Sandro José Bortoloto, empresário
- Sansão Inácio Rezende, empresário
- Stenia Souza da Silva, empresária
- Tiago Lopes de Oliveira, empresário
- Valdecir Batista Alves, empresário

Assim, o chefe do MPMS pede que Budke se torne réu por organização criminosa e crime de frustração do caráter competitivo de licitação. Todos os outros réus ainda foram denunciados pelo crime de frustração do caráter competitivo de licitação.
O prefeito afastado ainda pode responder por corrupção passiva e lavagem de capitais. Orlei também foi denunciado por lavagem de capitais.
Já por organização criminosa foram denunciados Arnaldo Glagau, Arnaldo Santiago, Cleberson, Eduardo, Fábio, Fernando, Genilton, Hander, Isaac, Leandro, Nádia, Orlei, Rinaldo, Rogério, Sandro, Sansão, Tiago e Valdecir.
Ainda foram denunciados por corrupção ativa Cleberson, Felipe, Luziano e Sandro. Por corrupção passiva, podem se tornar réus Eduardo, Isaac e Orlei.

O MP ainda pede a decretação de perda de bens de Budke que tenham sido adquiridos por meio do esquema, bem como que o prefeito afastado, Eduardo, Orlei e Valdecir fiquem inelegíveis pelo dobro da pena que possam vir a ser condenados.
Em nota, o advogado Julicezar Barbosa, que representa Budke, disse que ele foi surpreendido pela ação e que, no decorrer das investigações, vai provar a Inocência.
“Henrique foi surpreendido com a operação, pois sempre pautou sua vida em honestidade e transparência. Pediu afastamento do cargo para poder se concentrar em sua defesa. E aguarda a evolução das apurações, depositando na Justiça a confiança de que a verdade provará sua inocência”, declarou o defensor.
Prefeito comprou imóveis e empresas com dinheiro de propina

Conforme o relatório de investigação ao qual o Jornal Midiamax teve acesso, Budke viu seu patrimônio declarado aumentar 691% entre as eleições de 2020 — a primeira que disputou — e de 2024 — na que se reelegeu.Os investigadores cruzaram dados e levantaram que Henrique teria recebido cerca de R$ 611 mil em propinas.
Para o Gaeco, ao menos três bens do prefeito foram declarados com valores muito inferiores ao que realmente valem.
Exemplo citado na investigação é a Fazenda Ipê Amarelo, de 161 hectares, em Aquidauana, que ele declarou valer R$ 1,5 milhão — pagos à vista. No entanto, o valor de mercado da propriedade seria de R$ 4.356,017,67.
Para os investigadores, o enriquecimento vivenciado pelo prefeito era incompatível com suas funções. Assim, o Gaeco conclui que os valores recebidos como propina foram usados para aumentar o patrimônio de Henrique.
Além disso, ele investiu em empresas, como a Resilix Ltda., da qual ele declarou ter apenas R$ 1 mil pela participação societária de 33%. “Parece ter recebido valores ilícitos, pois sofreu uma alteração exponencial em seu capital social“, diz o documento.
Logo, os investigadores descobriram que o capital social da empresa atingiu R$ 2.237,700,00. Ou seja, Budke seria dono de R$ 745,9 mil da empresa — e não de apenas R$ 1 mil como informado anteriormente.
“Somado o valor real de mercado, o montante dos bens alcançaria em 2024 o montante real de R$ 6.141.948,18, o que indicaria crescimento de 691% em relação ao que foi declarado na eleição de 2020“, destaca outro trecho da investigação.
O prefeito foi preso durante a Operação Spotless, junto de um policial militar do Choque, o terceiro-sargento Fábio André Hoffmeister Ramires. Além deles, outras 10 pessoas foram presas: Arnaldo Santiago, Sansão Inácio Rezende, Nadia Mendonça Lopes, Orlei Figueiredo Lopes, Genilton da Silva Moreira, Eduardo Schoier, Fernando Seiji Alves Kurose, Hander Luiz Corrêa Chaves, Sandro José Bortoloto e Valdecir Batista Alves.