Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) identificaram uma nova unidade hidrogeológica na região centro-norte do Estado, denominada Aquífero São Gabriel do Oeste (ASGO). Com cerca de 1.400 km², o sistema se estende principalmente pelo município de São Gabriel do Oeste e, em menor escala, por Bandeirantes e Rio Negro.
Descoberta científica no norte de Mato Grosso do Sul
O ASGO foi apresentado no XVII Simpósio de Geologia do Centro-Oeste, realizado em Brasília, no fim de setembro. A descoberta revelou uma camada sedimentar com comportamento hidrogeológico distinto dos sistemas Guarani e Bauru, até então reconhecidos no Estado.
Segundo o geólogo e professor aposentado da UFMS, Giancarlo Lastoria, o novo sistema atende a todos os parâmetros técnicos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) para ser reconhecido como uma unidade independente.
Água de alta pureza e recarga rápida
De acordo com os estudos, o ASGO é um aquífero livre, o que favorece a infiltração da água no solo e garante uma recarga rápida. A análise da equipe apontou que a água apresenta elevada pureza, com condutividade elétrica de cerca de 5 μS/cm — valor semelhante ao da água da chuva.
Os poços tubulares rurais perfurados na região produzem, em média, 15 m³/h, tornando o sistema a principal fonte de abastecimento para famílias, pequenas propriedades e agroindústrias locais. Estima-se que o ASGO represente 36% da área total do município de São Gabriel do Oeste.
Reconhecimento e gestão sustentável
O pesquisador explica que o reconhecimento oficial do ASGO permitirá o monitoramento e a gestão mais eficiente da água subterrânea. O estudo será apresentado oficialmente à Frente Parlamentar de Recursos Hídricos, na Assembleia Legislativa, no dia 23 de outubro, às 14h.
A proposta é que o tema seja incluído na pauta do Conselho Estadual de Recursos Hídricos e contribua para a atualização do Plano Estadual de Recursos Hídricos, em vigor desde 2010. O trabalho é coordenado por Giancarlo Lastoria e pela professora e geóloga Sandra Gabas, com participação do doutor Odirlei Newman e da mestra Juliana Casadei, ambos egressos do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Ambientais da UFMS.
Risco de contaminação e necessidade de monitoramento
Apesar do potencial hídrico, os pesquisadores alertam para a vulnerabilidade do solo, que apresenta alta porosidade. Essa característica, embora favoreça a recarga, também aumenta o risco de contaminação, especialmente em áreas de agricultura intensa, assentamentos rurais, suinocultura e avicultura.
Pesquisas anteriores do LASAC/UFMS (Laboratório de Águas Subterrâneas e Áreas Contaminadas) já haviam identificado metais pesados, como arsênio, selênio e chumbo, em amostras de água da região. O grupo defende que o reconhecimento oficial do aquífero permitirá a criação de planos de monitoramento e de uso sustentável.
Mais de uma década de estudos
A confirmação do Aquífero São Gabriel do Oeste é resultado de mais de dez anos de pesquisas, que incluíram análises de 60 poços e levantamentos geofísicos na região do Chapadão de São Gabriel do Oeste.
Os estudos já resultaram em duas teses de doutorado, quatro dissertações de mestrado e diversos trabalhos de conclusão de curso. As investigações combinaram medições de condutividade da água, testes de infiltração, análises químicas e modelagem geológica, consolidando o avanço do conhecimento científico sobre os recursos hídricos subterrâneos de Mato Grosso do Sul.
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