5G pode elevar valor da produção do agronegócio a R$ 100 bilhões

O leilão para a implementação da quinta geração de telefonia móvel e de banda larga, o chamado 5G, realizado no início de novembro, foi muito comemorado por diversos setores da economia e a razão principal de tanta euforia é a expectativa em relação a tudo o que pode proporcionar a velocidade de rede de até 100 vezes superior a utilizada hoje em muitos lugares do País. Isso, na prática, representa muito mais do que a possibilidade de baixar vídeos mais rapidamente e sem ficar “travando” a tela, ou de melhorias na comunicação e conectividade entre pessoas e empresas, é a pavimentação para impulsionar negócios, gerando emprego e renda para muitos segmentos, entre eles o do agronegócio.

Toda essa transformação digital no campo, além de garantir uma produção mais sustentável, poderá elevar o potencial produtivo do agronegócio brasileiro, sinalizam estimativas de diversos órgãos e consultoria. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em projeção feita com base em estudo desenvolvido pela Esalq/USP, com a ampliação de apenas 25% na conexão do campo, já será possível um aumento de 6,3% no Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária brasileira. No entanto, se a implementação de tecnologias, sejam elas 2G, 3G, 4G e 5G, chegar a 90% das áreas, isso poderia impulsionar o VBP do agronegócio em R$ 101,47 bilhões.

“O uso da tecnologia é essencial no campo hoje. E a agropecuária paulista certamente estará na vanguarda tecnológica do 5G. Isso vai gerar mais produtividade, competitividade, empregos e investimentos nos próximos anos”, afirma o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP), Fábio de Salles Meirelles.

O avanço da velocidade no tráfego de dados no campo, por exemplo, é representado pelas ferramentas que poderão ser adotadas por produtores, que favorecem o acompanhamento das lavouras, aumentam a previsão da colheita e permitem, até mesmo, operar máquinas remotamente. O trabalho poderá ser realizado, inclusive, sem intermediação humana, a partir da coleta de dados por uma rede de sensores conectados ao solo, a plantas e a animais, fornecendo um retrato real das condições da propriedade e, com isso, otimizando os resultados.

Isso tudo será possível porque, além da nova tecnologia, as operadoras de telefonia se comprometeram a expandir a rede de internet, conectando mais cidades. E estes são, justamente, os maiores gargalos da conexão no campo: a forte limitação de acesso e uma infraestrutura limitada.

 

Só para ter uma ideia da baixa conectividade nas áreas rurais, de acordo com dados do Atlas do Espaço Rural Brasileiro, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 5,07 milhões de propriedades existentes hoje, 3,64 milhões de estabelecimentos rurais ainda operam sem internet, o que indica que mais de 70% das propriedades rurais trabalham no modo off-line.

“O nosso grande desafio é aumentar a conectividade, sobretudo das propriedades de menor porte, já que os grandes produtores estão mais avançados. A FAESP está ao lado dos produtores para caminharmos cada vez mais na tecnologia no campo”, diz o presidente.

Da porteira para dentro

Uma conectividade mais robusta para o campo potencializa o acesso à agricultura de precisão, resultando em maior produtividade e eficiência das lavouras e nas criações de animais, consolidando a agricultura 4.0.

Com a tecnologia 5G será possível, por exemplo, identificar e monitorar pragas e deficiências nutricionais em tempo real, com a transferência de informação ocorrendo do campo direto para o escritório e, assim, tomar as melhores decisões de maneira mais rápida. Uma das ferramentas para colher estes resultados é a utilização de drones para controle e prevenção, pois estes equipamentos podem ser usados, por exemplo, para mapear a terra, analisar o solo e as culturas e aplicar defensivos agrícolas.

Na pecuária, será possível adotar a rastreabilidade de animais desde o nascimento até o abate, garantindo que não sejam produzidos em áreas embargadas ou desmatadas irregularmente. “A pecuária brasileira, principalmente a paulista, está adotando práticas cada vez mais sustentáveis. Com o 5G, a tendência é de melhoramos cada vez mais neste quesito”, ressalta Meirelles.

 

Outros dispositivos que o 5G permitem implementar são sensores conectados ao solo, às plantas e aos animais; sistemas de irrigação e inteligentes de monitoramento de pragas e tecnologias vestíveis; além de proporcionar a conexão de máquinas por meio da internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) e da sincronização de dados entre a operação de colheita e o recebimento de grãos no armazém.

As informações de estações meteorológicas também poderão ser acompanhadas com maior frequência. A questão da segurança é outro ponto que ganha reforço com a adoção do 5G. Afinal, fazendas podem ser particularmente vulneráveis a eventos como roubo e incêndio. Com a nova tecnologia, sistemas de detecção e equipamentos de vigilância alimentados por Inteligência Artificial podem identificar incidentes e desencadear ações corretivas. Além disso, permite a instalação de sistemas de segurança de várias camadas, incluindo sensores em portões, cercas e de detecção de movimento.

Todos esses dispositivos podem ser interligados e serem acompanhados em tempo real, a partir de qualquer dispositivo conectado à internet, mesmo que fora da propriedade, para auxiliar decisões importantes quanto a lavouras e animais.

“É fundamental que os produtores rurais tenham segurança, inclusive porque muito moram com suas famílias nas propriedades. A tecnologia vai ajudar a tornar a atividade cada vez mais segura para quem trabalha e produz”, lembra o presidente.

Da porteira para fora

A melhora na eficiência da gestão no campo com a adoção do 5G ultrapassa as cercas das propriedades, uma vez que o monitoramento de animais e lavouras permite a rastreabilidade de produtos e cargas, com sistemas de transportes com caminhões e indústrias integrando o ecossistema de dados e informações suportados pelas redes de quinta geração, agregando valor a todos os pontos da cadeia e melhorando a qualidade e o preço dos produtos.

O treinamento de pessoas em ambiente digital e a manutenção de máquinas em nível de campo de forma remota e verificação de softwares são outros pontos que ganham espaço.

A tecnologia 5G pode ser utilizada ainda na operação remota de tratores, colheitadeiras e outras máquinas autônomas. Desta maneira, é possível traçar rotas para evitar desperdício de recursos e aumentar o tempo produtivo. Além disso, o controle a distância possibilita que as máquinas operem sob quaisquer condições, dia e noite.

 

“A tecnologia não veio para tirar o emprego de ninguém, muito pelo contrário. Estão surgindo novos empregos na área de tecnologia aplicada ao campo. Certamente, isto será ótimo para gerar postos de trabalho de qualidade”, destaca Meirelles.

Um relatório elaborado pela Nokia e a consultoria Omdia estima que a tecnologia pode gerar US$ 76,8 bilhões para o setor até 2035. “A tecnologia vai agregar cada vez mais valor ao agronegócio, que já é o setor que mais cresce na economia brasileira. E a tendência, com o 5G, é de um crescimento ainda maior. Já temos um setor altamente competitivo e será um passo ainda maior para assumirmos de vez uma posição de liderança mundial”, finaliza o presidente.

* com informações da FAESP

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