A tilápia consolida-se cada vez mais como a espécie mais cultivada no Brasil. Em 2021, foram produzidas 534.005 toneladas no país, com aumento de 9,8% sobre o desempenho do ano anterior (486.155 t). Com esse resultado, a tilápia participou com 63,5% da produção nacional de peixes de cultivo.
A espécie está presente em todas as regiões do país, com maior ou menor relevância. Mesmo na região Norte, tradicional polo de criação de peixes nativos, a tilápia começa a aparecer, a partir da liberação de cultivo por alguns governos estaduais. Naquela região, em 2021 foram produzidas 860 toneladas, um volume pequeno, mas que representa incremento de quase 40% sobre o ano anterior (620 t).
O Sul lidera, com folga, a produção de tilápia. A espécie representa 86% de todos os peixes de cultivo na região. No total, são 231.900 t nos três estados sulistas: cerca de 43,4% da produção nacional. O Sudeste vem a seguir com perto de 27% da produção total de tilápia (144.340 t), com destaque para São Paulo e Minas Gerais. Juntos, Sul e Sudeste detêm 70% do cultivo no país.
O Centro-Oeste também avança no cultivo de tilápia, já representando em torno de 11,5% (61.650 t) e se aproxima do Nordeste, que com 95.300 t no ano passado participa com 18% do total.
Produção de peixes nativos recua, mas segmento mantém força e potencial
Os peixes nativos, liderados pelo tambaqui, representaram 31,2% da produção nacional, em 2021, com 262.370 toneladas. Esse resultado é 5,85% inferior ao obtido em 2020 (278.671 t).
Vários fatores interferem no segmento de peixes nativos. A regularização ambiental nos estados produtores, a necessidade de investimentos na infraestrutura de processamento e de insumos, além das dificuldades de comercialização impostas pela pandemia associam-se para justificar a queda da produção. Mas esses não são os únicos obstáculos aos peixes nativos. Falta também apoio oficial nos estados da região Norte para que as principais espécies tenham o respaldo necessário para crescimento.
“Um ponto importante é a questão ambiental. Sem regularização, os produtores não podem obter crédito. É imperioso que os governos estaduais olhem com muita atenção para esse fator, essencial para o cultivo dos nativos reverter a tendência e voltar a crescer”, destaca Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR).
A produção de peixes nativos está concentrada nas regiões Norte (143.850 t: 57% do total), Nordeste (53.675 t: 20,5%) e Centro-Oeste (49.250 t: cerca de 19%). Somente o Ceará não registra presença de nativos, aponta levantamento do Anuário PeixeBR 2022.
“O potencial é imenso”, assinala o presidente da PeixeBR. “É preciso olhar com muito carinho para o segmento. Esse é um desafio coletivo. Os peixes nativos representam um impressionante patrimônio nacional. São centenas de espécies com viabilidade econômica. Porém, os produtores estão acuados, sem motivação para grandes investimentos”.
Pangasius cresce no nordeste e contribui para aumento de 5% na produção de outras espécies
O pangasius permanece puxando o segmento “Outras Espécies”, que em 2021 teve produção de 44.585 toneladas ou 5,3% do total. O crescimento foi de 17% sobre o ano anterior.
Além do pangasius, favorecido pela liberação de cultivo em alguns estados – especialmente na região Nordeste – há importante produção de trutas e carpas, espécies mais presentes nas regiões Sul e Sudeste.
“O panga realmente está caindo no gosto de piscicultores do Nordeste. Com a criação autorizada em mais estados, a produção avança, porém ainda lentamente. Assim como ocorre com os peixes nativos, que carece de legislação ambiental clara, também é preciso que os governos estaduais olhem com carinho para essa questão, essencial para possibilitar o acesso dos produtores a crédito oficial – disponível e mais barato”, assinala Francisco Medeiros, presidente executivo da Associação Brasileira da Piscicultura.
O cenário é positivo para o pangasius nos próximos anos. Medeiros entende que essa espécie é importante para dar opção de criação em algumas localidades. “É mais um exemplo da excepcional diversidade de cultivo possibilitada pelas condições brasileiras”, diz.
* Com informações do Anuário da Piscicultura 2021