Animal de grande porte, carne macia, abate precoce e adaptação à diferentes climas. Essas são algumas das características da raça do bovino de corte que nasceu no estado do Paraná e comemora cinco anos do seu reconhecimento oficial pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Purunã. Para celebrar o aniversário, o IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná) lança o projeto Unidades Referência Purunã para disseminar a raça ainda mais pelo estado.
Temos a missão de continuar com a disseminação dessa raça e de atender àqueles produtores que precisam da ajuda do estado. E, com o lançamento deste projeto, teremos as condições necessárias”, afirma Natalino.
O projeto prevê a capacitação de técnicos e a seleção de produtores para criação de animais com a assessoria do IDR-Paraná. Nesta quinta e sexta-feira foi realizada a primeira etapa. Técnicos das regiões dos Campos Gerais e do Vale da Ribeira participaram de um treinamento para conhecer melhor as características da raça e, na segunda etapa, estes mesmos técnicos serão capacitados para dar assistência à alguns produtores, que serão escolhidos pelo IDR-Paraná, para receber touros da raça pura para reprodução. O evento contou também com uma degustação de alguns cortes no final do primeiro dia de curso.
Tecnicamente, Purunã é um bovino composto. Isso significa que resulta de cruzamentos entre outras raças, no caso, animais Charolês, Aberdeen Angus, Caracu e Canchim. Ao associar o melhor dessas quatro raças os especialistas apontam que animais Purunã são capazes de manter alto desempenho em diversas condições de relevo e de temperatura ambiente. Com isso, interessam aos mais variados perfis de criadores, do mais simples ao mais especializado, para uso em confinamento ou manejados em pastagem.
Para o produtor Olair Antonio Gonçalves de Lara, que trabalha exclusivamente com a raça Purunã desde 2007 e já possui mais de 60 cabeças de gado em sua propriedade que fica em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, a raça é de uma qualidade que vale o investimento e traz um ótimo retorno. Para o agricultor todas as características desta raça fazem com que o trabalho seja lucrativo e fácil. “O abate precoce, a facilidade para se adaptar a qualquer clima e tipo de solo fazem com que a raça tenha mais rendimento”, afirma o agricultor que fez questão de prestigiar o evento por ser um dos primeiros produtores a investir no Purunã.
Os animais foram desenvolvidos na fazenda modelo do IDR-Paraná que fica em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do estado. Na fazenda, hoje, existem cerca de 1.600 cabeças de gado que são cuidadas com muito zelo. O auxiliar de ciência e tecnologia Sandro José Machado de Farias é um dos responsáveis por manter o bem-estar dos animais. Sandro conta que a rotina de alimentar, limpar o lugar onde os animais ficam e até escovar os pelos é feita com muito carinho e passou de geração para geração, pois segue o trabalho do pai que é seu colega de trabalho ali na fazenda. “Eu adoro o que eu faço. Cuido muito bem dos meus fios. É assim que chamo todos eles. Mesmo que tenham seus nomes de registro eu gosto de chamá-los de fio. E eles me atendem”, comenta Sandro.
Também são pontos de destaque e bastante elogiados da raça Purunã a distribuição equilibrada de gordura e o elevado rendimento da carcaça, assim como a alta qualidade da carne, que tem excelente marmoreio, de acordo com os técnicos. Denomina-se marmoreio a gordura entremeada nos cortes, que dá maciez, suculência e sabor amanteigado à carne. Para o pesquisador José Luís Molleta que participou do desenvolvimento desta raça desde o início são muitos os pontos que fazem com que esta raça seja exclusiva e agregue características de interesse tanto do produtor quanto do consumidor. “É a única raça de bovino para corte criada no Brasil por um centro estadual de pesquisa e suas características alcançadas graças ao cruzamento de outras raças de qualidade faz com que o Purunã ganhe cada vez mais adeptos”, comenta.
Para que a oficialização da raça fosse efetivada foi necessária a criação da Associação Brasileira do Purunã que auxilia tanto na disseminação da raça quanto na organização dos produtores. Para o secretário da associação, Erlon Pilati, os mais de 40 produtores que são associados atualmente estão satisfeitos com o retorno obtido. O Purunã é um patrimônio do Estado do Paraná e a pesquisa do estado foi muito feliz e satisfatória e trouxe progresso para os produtores do país todo, inclusive para os pequenos e médios”, afirma Pilati.
De acordo com Luís Fernando Brondani, coordenador do programa de bovinocultura de corte do IDR-Paraná e responsável pelo projeto de fomento da raça, o Purunã já está em quase todos os estados do Brasil, mas ainda pode ser melhor explorado, inclusive, aqui no estado. “Temos uma carne de qualidade que foi desenvolvida aqui no Paraná e após a capacitação destes técnicos vamos escolher, a dedo, as propriedades para receberem reprodutores para produzir bezerros mestiços que tenham alto valor agregado na hora da venda e, desta forma, ampliar a oferta da carne do Purunã nos mercados”, comenta.
Para quem entende do assunto, como o açougueiro Ivan Freitas, que trabalha no ramo a mais de vinte anos a qualidade da carne foi comprovada. “A carne é extremamente macia, suculenta, com bom acabamento de gordura. O Purunã superou todas as expectativas. Foi a melhor carne que eu já trabalhei e já comi”, afirma Ivan.
Investimento em pesquisa
A ideia de desenvolver uma nova raça surgiu ainda no início da década de 1980, em Ponta Grossa, a partir de bons resultados obtidos em uma investigação que os pesquisadores do IDR-Paraná conduziam sobre a eficiência na produção de carne em cruzamentos alternados envolvendo Charolês-Caracu e Aberdeen Angus-Canchim.
Foram quase quatro décadas de cruzamentos e seleções sucessivas e controladas até que fosse possível agregar os melhores atributos de cada uma das raças formadoras — Caracu e Canchim transmitiram rusticidade, tolerância ao calor e resistência aos carrapatos. Charolês contribuiu para dar velocidade ao ganho de peso, grande rendimento de carcaça, elevado porcentual de carnes nobres e pequena capa de gordura.
Já o Angus deu precocidade, tamanho adulto moderado e temperamento dócil, além de alta qualidade de marmoreio na carne. A habilidade materna e a boa produção de leite pelas vacas, características importantes para o manejo dos rebanhos herdadas de Caracu e Angus, são também atributos que se destacam nos animais Purunã.
Todo o trabalho de desenvolvimento da raça foi conduzido na Estação Experimental Fazenda Modelo, unidade de pesquisa do IDR-Paraná em Ponta Grossa, próxima à Serra do Purunã, da qual ganhou o nome em homenagem ao acidente geográfico.
- idr