O setor de produção de leite no Brasil está atravessando um período de turbulência, com pecuaristas enfrentando uma crise que ameaça sua subsistência. A queda nos preços pagos aos produtores e a crescente concorrência das importações estão levando muitos a temerem o abandono da atividade.
O produtor de leite Wagner Rodrigues Silveira, 29 anos, é um exemplo dessa realidade. Ele está considerando seriamente abandonar a produção de leite e buscar alternativas mais rentáveis no campo. Silveira relata que, em comparação com o ano anterior, ele está perdendo R$ 1 por litro de leite. Com um ganho de apenas R$ 1,80 por litro e custos de produção de R$ 1,70, a margem de lucro está praticamente no zero a zero.
O problema que afeta Silveira é compartilhado por muitos produtores de leite em todo o país. A situação piorou devido ao aumento das importações na indústria de laticínios, especialmente de produtos do Mercosul. As importações massivas aumentaram a oferta de leite no mercado brasileiro, o que, embora tenha beneficiado os consumidores com preços mais baixos, reduziu drasticamente os preços pagos aos produtores.
Dados da plataforma Comex Stat do governo federal mostram que, de janeiro a setembro de 2023, as importações de leite, creme de leite e laticínios (exceto manteiga e queijo) mais do que dobraram em comparação com o mesmo período de 2022, registrando um aumento de 108,4% em volume.
A disparada das importações é o principal problema apontado pelos produtores brasileiros. Eles têm dificuldades em competir com produtos mais baratos do Mercosul, notadamente da Argentina, que possui custos de produção naturalmente mais baixos devido a diversos fatores, como produtividade da terra e do gado, além do tamanho das fazendas.
A queda nos preços, aliada ao aumento dos custos de insumos após a pandemia e a guerra na Ucrânia, tornou a atividade leiteira cada vez mais desafiadora para os produtores brasileiros. Como resultado, muitos deles têm pressionado o governo a adotar medidas que limitem as importações e garantam preços justos.
O governo brasileiro respondeu com um decreto que altera as condições para o uso de créditos tributários concedidos a indústrias no âmbito do Programa Mais Leite Saudável. A medida estabelece um percentual menor de uso de créditos presumidos para laticínios que realizarem importações. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) considera essa medida fundamental para lidar com a crise no setor.
A falta de estatísticas atualizadas torna difícil avaliar o impacto exato da crise no setor de leite no Brasil, mas as estimativas apontam para uma redução significativa no número de produtores de leite em todo o país. Muitos temem o abandono da atividade, o que representa uma ameaça para um setor que tem profunda ligação com a agricultura familiar no Brasil.
(com inf da Folha Press)