Formigas sempre foram animais fascinantes para os cientistas, que há séculos estudam o comportamento desses insetos, que parecem agir como se fossem um único organismo vivo. Mas uma descoberta recente deixou pesquisadores boaquiabertos: as formigas podem produzir uma espécie de “leite” para alimentar seus filhotes.
A pesquisa fascinante foi publicada na revista Nature, e revelou como as formigas na fase da crisálida — um estágio entre larva e adulto também conhecido como pulpa, em que certos insetos se metamorfoseiam — são alimentadas com um fluido rico em nutrientes, muitíssimo semelhante ao leite dos mamíferos.
O “leite” é produzido em grandes quantidades dentro da própria crisálida, e consumido pelos jovens assim que saem dela. O fenômeno ocorre apenas em insetos sociais. Nos outros, que vivem solitariamente, o componente é absorvido pelo próprio animal, ao invés de se grudar na parede da crisálida como um banquete a ser consumido por todos.
“Nos primeiros dias após a eclosão, as larvas dependem do fluido quase como um recém-nascido depende do leite”, afirma Daniel Kronauer, biólogo da Universidade Rockefeller e um dos cientistas responsáveis pela pesquisa.
Mas não são apenas os jovens que bebem a substância, e sim todos os integrantes da colônia, quase como uma tradição nutritiva.
“Os adultos também bebem vorazmente e, embora não esteja claro o que isso faz com eles, estamos confiantes de que afeta o metabolismo e a fisiologia. A maneira como as formigas usam esse fluido cria uma dependência entre os diferentes estágios de desenvolvimento”, completa Kronauer, no site da Universidade Rockefeller.
O estudo mostrou ainda uma cooperação intensa entre os membros do formigueiro nessa etapa da vida. Sem os adultos, os jovens não conseguem beber o leite, extremamente necessário nos primeiros quatro dias de vida. Os que não o consomem no período, não crescem e têm grandes chances de morrer, vítimas principalmente de infecções causadas por fungos.
O estudo focou em colônias de formigas-biroi (Ooceraea biroi), mas produções semelhantes já foram identificadas em diversos outros grupos e famílias de formigas.
Entre as substâncias identificadas no leite constam hormônios, aminoácidos, açúcares e vitaminas, além de compostos neuroativos. Alguns dos componentes são similares aos da geleia real, usada como alimentação por abelhas.
A suspeita é que esse composto esteja também, de alguma forma, por trás do comportamento complexo de intensa colaboração entre integrantes de formigueiros. Mas os cientistas ressaltam que ainda precisam identificar essa possível ligação.
“Este estudo fornece apenas um vislumbre das intrincadas redes de interação das sociedades de insetos”, diz Orli Snir, um dos autores do estudo. “Nosso objetivo de longo prazo é obter uma compreensão profunda dos mecanismos neurais e moleculares que regem a organização social e como esses mecanismos evoluíram.”
fonte: nature