A casa popular, que antes estava em torno de R$ 130 mil, hoje já é avaliada entre R$ 180 a R$ 200 mil, em Campo Grande. De dois anos para cá, construtores viram o custo dos itens subirem “absurdamente” e o repasse para os clientes ficou inevitável, já que o cimento e o ferro, por exemplo, tiveram aumento de 50% e o custo, para erguer um imóvel, só não é maior porque o salário da mão de obra não acompanhou este reajuste.
Segundo a Acomasul (Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul), o valor do cimento foi o “último grande impacto” para a categoria. “Estou neste ramo há cerca de 2 anos e nós acompanhamos o impacto da construção pelo INCC [Índice Nacional da Construção Civil], que mede a inflação. Houve um acumulado geral nas obras e isso deixou a obra ao menos 50% mais cara”, afirma o advogado Diego Canzi, de 35 anos, atual presidente da associação.
Conforme Canzi, o aumento do preço de venda das casas só não é maior por conta da mão de obra. “A contratação destes profissionais não teve um custo tão elevado, principalmente porque o salário mínimo também não teve uma alta expressiva. Mas, quando se fala nos materiais de construção, quase tudo dobrou e outros subiram cerca de 50%”, argumentou.
Expectativa é de crescimento do setor este ano
Mesmo com os aumentos, o presidente fala que a expectativa do setor é de 4% a 5% de crescimento em 2022. “Um exemplo clássico é o programa Casa Verde e Amarela, que saiu de R$ 135 mil para R$ 190 mil, por exemplo. É um momento temerário que estamos vivendo, com o acúmulo de preços”, disse.
Entre os itens, no entanto, o cimento é a grande preocupação do momento. De acordo com o Acomasul, o novo custo do imóvel não “casa” com a realidade dos consumidores, já que a renda dele não acompanhou esse reajuste de preços.
“E atrelado a tudo isso ainda tivemos uma alta nos juros, o que também impacta negativamente na venda. A maioria desses imóveis são financiados em até 80% e a entrada, por exemplo, fica em torno de R$ 34 mil se você pensar em um imóvel de R$ 180 mil. A parcela também pode ficar desproporcional e tudo isso vai tornar o imóvel menos acessível, vai restringir o acesso”, comentou Diego.
Cliente está reclamando dos aumentos
O proprietário de uma loja de materiais de construção, de 45 anos, que atua no ramo há mais de 20 anos, no bairro Santa Luzia, região norte da cidade, ressalta que os preços mudam semanalmente e os fornecedores ficam até enviando a tabela atualizada pelo Whatsapp.
“Eu lembro exatamente de quando pagava R$ 22,80 nas bolsas de cimento, há uns 2 anos. Na época, comprava cerca de 500 bolsas por semana, fazia promoções. Os preços foram subindo, subindo e nos últimos dias estava pagando R$ 33,50. Fiz um pedido de 200 bolsas e agora está ao custo de R$ 36,50 um dos fornecedores. A gente está vendendo a R$ 39, o lucro é bem baixo e ganhamos na quantidade”, explicou.
Além do cimento, o piso também teve aumento de preço e ferro, com reajuste de 16%, ainda de acordo com o empresário. “O pessoal, a clientela, está sempre reclamando. A gente busca fazer orçamentos, procurar mais barato, só que tudo subiu e fica impossível não passar isso pro cliente. É toda uma cadeia construtiva impactada por este cenário”, finalizou.
acomasul/mdx