Aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm a expectativa de que Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice na chapa do petista, seja efetivo em ampliar os limites da aliança depois de oscilar seu tom entre demonstrar lealdade ao PT e acenar para fora da esquerda.
Alckmin vinha sendo alvo de críticas por parte de apoiadores de Lula e entusiastas de uma frente contra o presidente Jair Bolsonaro (PL). Primeiro por não ter agregado, logo em sua chegada, mais partidos ou nomes de peso à aliança.
Em segundo lugar, por ter se empolgado além do esperado na defesa do ex-presidente e no alinhamento a ele em discursos, o que poderia atrapalhar a interlocução com setores conservadores.
Diante disso, a fala do ex-governador de São Paulo no último dia 7, quando a chapa Lula-Alckmin foi lançada em São Paulo, representou uma mudança de rota. A pré-campanha havia recebido apelos por um tom mais sóbrio e de moderação e por acenos para além do espectro da esquerda –mas sem quebrar a confiança da militância do PT.
Aliados de Lula consideraram que Alckmin precisava recuar em relação à postura adotada em aparições anteriores e atenuar afagos à base petista.
O tom inflamado e os gritos pró-Lula ao falar com sindicalistas assim como o hino da Internacional Socialista foram vistos como artificiais e causaram estranhamento entre tucanos que conhecem Alckmin de longa data.
Se antes foi preciso acenar para dentro da esquerda, Alckmin teria voltado a seu padrão no dia 7, segundo aliados. Para eles, salientar diferenças não é uma afronta, mas uma forma de demonstrar complementação.
O conteúdo lido por Alckmin no ato abrangeu indicações discretas sobre temas que não necessariamente estão no âmago do programa do PT ou são endossados pelas siglas de esquerda inseridas na coligação.
Falando em nome da chapa, ele prometeu “estimular o empreendedorismo, os investimentos, a produção e uma relação reciprocamente mais justa e vantajosa entre trabalhadores e empresários”, sem lançar mão de temas espinhosos, como revogação da reforma trabalhista.
A entronização perante a militância de Lula incluiu ainda aspectos sutis, como as saudações a movimentos religiosos e à sociedade civil organizada, insinuando uma abertura para o diálogo com setores avessos ao petismo.
A demarcação de diferenças com o petista, algo também pontuado em sua fala, tem dupla função –não implodir sua interlocução com setores conservadores e demonstrar que, em nome da democracia, adversários podem se unir.
No entanto, a tarefa de Alckmin de expandir o arco de apoiadores de Lula não será simples, admitem petistas, levando em consideração que partidos de centro resistem a uma aliança formal já no primeiro turno.
Embora maior do que nas eleições presidenciais de 2018, a coligação do PT reúne sete partidos da centro-esquerda –sem conseguir avançar mais à direita.
O clima entre petistas é de conformismo com a hipótese de que apenas alas ou representantes isolados de outros partidos declarem apoio a Lula, como fez o tucano Aloysio Nunes (SP) na sexta-feira (13) em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), por exemplo, participaram do lançamento da chapa. Os senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Renan Calheiros (MDB-AL), além do ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD-MG), também já deixaram claro que irão apoiar o petista.
Aliados mais otimistas, contudo, ainda ventilam a possibilidade de que PSD e MDB se juntem à campanha, sobretudo diante de um cenário que aponte para a reeleição de Bolsonaro e diante da estagnação da chamada terceira via. Há quem inclua na lista até mesmo o PDT de Ciro Gomes –que hoje não admite retirar sua candidatura.
Em resposta à crítica de que a frente ampla de Lula até agora materializou apenas uma frente de esquerda, petistas afirmam que a coalizão não necessariamente deva ser formada só por instâncias partidárias.
A avaliação é a de que apoios isolados dentro de legendas ou o endosso de personalidades e grupos da sociedade civil também têm peso na narrativa de união contra um inimigo comum. Há consenso no núcleo da pré-campanha de que a presença de Alckmin tende a favorecer essas adesões.
Petistas afirmam ainda que, ao se tratar de articulação política, esse primeiro momento da pré-campanha foi exitoso por agregar movimentos sociais, populares e sindicais em torno do nome de Lula.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que irá atuar na campanha, diz que advoga pela ampliação dos partidos aliados, ressaltando que só há dois lados na disputa eleitoral neste ano: “o da democracia e o do autoritarismo”.
Em um momento em que Bolsonaro amplia os questionamentos ao processo eleitoral e faz insinuações golpistas, o senador avalia que é preciso ter “unidade entre os democratas”. “O momento de unidade é agora, isso não pode ser deixado para depois, nem do ponto de vista político, nem do eleitoral.”
A expectativa é que Alckmin possa mediar o diálogo com esferas mais resistentes a Lula, como o agronegócio, o mercado financeiro e setores religiosos mais conservadores.
“Agora vamos trabalhar onde nós podemos crescer. E é nesse campo liderado por Alckmin”, afirma o ex-governador petista Wellington Dias (PI), que também integrará a coordenação da campanha.
Ele destaca que as pesquisas apontam que há uma parcela de eleitores indecisos que deverá ser explorada, assim como regiões do país em que Alckmin poderá atrair votos, como Sudeste e Centro-Oeste.
A partir de agosto, Alckmin deverá cumprir um roteiro de viagens próprio, a começar pelo interior de São Paulo. Antes disso, é esperado que ele viaje com Lula, na intenção de apresentar a chapa aos eleitores.
Em sua fala no dia 7, o ex-governador enfatizou o convite para adesão de outras siglas e forças políticas à frente desejada pelo PT.
“Faço um chamado público às demais forças políticas do país que trabalham por essa mesma mudança: venham se juntar a nós”, discursou.
Ele usou seu tempo para fazer o que chamou de um “chamado à razão” e defendeu união de correntes ideológicas diferentes em nome da defesa da democracia, o mote da campanha petista.
O ex-governador também dará contribuições ao plano de governo. No último dia 4, ele participou de reunião com coordenadores dos Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.
Segundo o ex-ministro Aloizio Mercadante, que preside a fundação, foram debatidos temas como o agronegócio, o fortalecimento do SUS e a necessidade de desenvolver o complexo industrial na área da saúde e de reconstruir o pacto federativo –ressaltando parcerias que o ex-tucano teve com gestões petistas enquanto estava no Governo de São Paulo.
Também foi discutida a necessidade de incorporar a sustentabilidade nas propostas, algo “que está no centro das preocupações e será um eixo estruturante da campanha”, segundo Mercadante, e estimular o empreendedorismo, tornando o BNDES um banco garantidor.
De acordo com o ex-ministro, esses temas serão aprofundados em próximos encontros com o ex-governador.
No próximo dia 23 está prevista uma reunião entre presidentes dos partidos que integram a aliança em torno da chapa e que terá a presença de Lula e Alckmin. Nela, serão tratados os próximos passos da pré-campanha.
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