Governo Bolsonaro já trocou 29 ministros em dois anos e meio

Em dois anos e meio de governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já realizou 29 trocas ministeriais. A última dança das cadeiras foi concretizada esta semana com a nomeação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil.

Para reacomodar o político do Centrão, o general Luiz Eduardo Ramos foi realocado para a Secretaria-Geral, comandada até então por Onyx Lorenzoni. Este, por sua vez, foi remanejado para uma pasta que havia sido extinta no início da atual gestão: o Ministério do Trabalho e Previdência.

Do total de 29 mudanças, 18 ministros perderam vínculo total com o primeiro escalão do governo. Alguns desses tornaram-se desafetos públicos do presidente, como são os casos do general Santos Cruz e do ex-ministros da Justiça Sergio Moro e da Saúde Luiz Henrique Mandetta.

A primeira baixa ocorreu logo no segundo mês da gestão Bolsonaro, quando o presidente demitiu o então secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno. No lugar, assumiu Floriano Peixoto. A demissão de Bebianno ocorreu em meio a suspeitas de que o PSL, antigo partido de Bolsonaro, usou candidaturas laranja nas eleições de 2018.

Semanas antes da queda do ex-ministro, o jornal Folha de S.Paulo informou que, quando Bebianno presidia o PSL, o partido repassou o valor de R$ 400 mil a uma candidata à deputada federal de Pernambuco. Segundo o veículo, o repasse foi feito quatro dias antes das eleições, e ela recebeu 274 votos. Bebianno negou irregularidades em sua gestão.

Dois meses depois, em abril, foi a vez do então titular da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, ter a demissão anunciada. O substituto foi Abraham Weintraub, que também colecionou polêmicas no período em que comandou a pasta.

No tempo em que ficou à frente do MEC, Vélez enfrentou uma “guerra interna” no ministério provocada por desentendimentos entre militares e seguidores do escritor Olavo de Carvalho. Ele ainda protagonizou uma série de polêmicas, entre as quais a gerada pela afirmação de que “a universidade não é para todos”. Em outra ocasião, disse em entrevista que “o brasileiro parece um canibal quando viaja ao exterior”. Depois, disse ter sido “infeliz” na declaração.

Em seguida, dessa vez em junho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro optou por demitir o então titular da Secretaria de Governo da Presidência, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz.

Santos Cruz foi demitido devido a supostas mensagens do ex-ministro em um grupo de aplicativo com críticas ao próprio presidente. O então ministro argumentou que não era o autor das mensagens, mas a demissão foi inevitável. A perícia, meses depois, confirmou a versão de Santos Cruz. Ele vinha em choque também com os filhos de Bolsonaro.

No mesmo mês, houve nova troca na Secretaria-Geral da Presidência. No lugar de Floriano Peixoto, que deixou a pasta para presidir os Correios, assumiu Jorge Oliveira.

Floriano Peixoto substituiu o general Juarez Cunha, que teve a demissão anunciada por Bolsonaro após comportamento “sindicalista”. O ex-presidente dos Correios havia se manifestado contrariamente à privatização da empresa.

Em fevereiro de 2020, Bolsonaro exonerou Gustavo Canuto do Ministério do Desenvolvimento Regional, dando lugar a Rogério Marinho, que segue no comando da pasta até hoje.

A demissão de Canuto – a primeira de 2020 – foi motivada pelas críticas de parlamentares à gestão do então ministro. Eles se queixavam ao Palácio do Planalto da demora no atendimento de demandas e de dificuldade na liberação de emendas.

Na semana seguinte à demissão de Canuto, foi a vez de o deputado Osmar Terra (MDB-RS) deixar o primeiro escalão de Bolsonaro e ser substituído por Onyx Lorenzoni no Ministério da Cidadania.

Em junho de 2020, foram feitas novas mudanças na pasta da Educação. Após se tornar alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por chamar os ministros da Corte de “vagabundos”, Weintraub foi demitido.

Dias depois, o economista e professor Carlos Alberto Decotelli da Silva foi nomeado substituto de Weintraub. Ele não chegou a tomar posse e renunciou após uma série de controvérsias envolvendo seu currículo acadêmico. Em julho, o pastor Milton Ribeiro foi nomeado ministro da Educação, e segue no posto.

No fim de 2020, houve uma mudança na pasta do Turismo. Marcelo Álvaro Antônio, acusado de envolvimento em escândalos de candidaturas laranja nas eleições de 2018, enfim foi substituído por Gilson Machado.

Em dezembro do ano passado, o então ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, deixou o posto após Bolsonaro indicá-lo para ocupar uma cadeira no Tribunal de Contas da União (TCU).

Trocas na Saúde

O presidente Jair Bolsonaro iniciou o mandato ao lado do médico e ex-deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM), que permaneceu no cargo de ministro por um ano e quatro meses. A exoneração do ex-ministro ocorreu em 16 de abril, pouco depois do início da crise da pandemia de coronavírus.

Bolsonaro e Mandetta discordavam sobre a forma de lidar com o combate à pandemia. O ex-ministro apoiava medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos, constantemente atacadas por Bolsonaro.

Mandetta também se negou a endossar o uso geral de cloroquina como remédio para a Covid-19, alegando que a ciência não tem indícios suficientes da eficácia do composto defendido por Bolsonaro.

Para o lugar do ex-ministro, Bolsonaro escolheu o oncologista Nelson Teich, que permaneceu no cargo apenas durante 28 dias. No período em que comandou a pasta, Teich manteve a linha de Mandetta, em defesa do isolamento social e contra o uso da hidroxicloroquina no tratamento contra a Covid-19.

Com a saída de Teich, em maio, o general Eduardo Pazuello, que era secretário-executivo da Saúde, assumiu o cargo de ministro, primeiro como interino, depois como titular. Ele ficou no posto por 10 meses, o mais longo período durante a pandemia até agora. Só foi substituído em março de 2021, após críticas à sua gestão. Assumiu no lugar o médico Marcelo Queiroga.

No meio à crise sanitária, o governo Bolsonaro se viu envolto em uma crise política, quando o então ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu demissão alegando que o presidente queria “interferir politicamente” na Polícia Federal ao exonerar, sem o seu conhecimento, o então diretor-geral Maurício Valeixo.

A acusação resultou na abertura de um inquérito, autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), para investigar a suposta interferência.

A expectativa é de que Bolsonaro deponha no inquérito. Até o momento, no entanto, o plenário do Supremo não decidiu sobre como deve ser feito a oitiva do presidente – se presencialmente ou por escrito.

Penúltima dança das cadeiras

Em março de 2021, Bolsonaro fez a penúltima reforma ministerial, com mudanças em seis pastas: Defesa, Relações Exteriores, Justiça, Secretaria de Governo da Presidência, Casa Civil e Advocacia-Geral da União (AGU).

No Itamaraty, o chanceler Ernesto Araújo foi substituído por Carlos Alberto Franco França. Com o início dos trabalhos da CPI da Covid-19, Araújo foi acusado de dificultar a aquisição de vacinas pelo governo federal e se desgastou com o Congresso por antagonizar excessivamente com a China.

Na Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva, que estava no cargo desde o início do governo, foi substituído por um militar mais próximo ao presidente, o general Braga Netto. O general Ramos, por sua vez, deixou a Secretaria de Governo para comandar a Casa Civil.

Na Segov, assumiu a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF). José Levi Mello deixou a Advocacia-Geral da União (AGU) para André Mendonça. Com isso, a Justiça passou para o comando de Anderson Torres, delegado da Polícia Federal

Considerado o último representante da ala mais abertamente ideológica do governo, Ricardo Salles foi demitido em junho de 2021, após acusações de suposto envolvimento em esquema de exportação ilegal de madeira do Brasil para o exterior. Joaquim Alvaro Pereira Leite é seu sucessor.

Ministros fiéis

Permanecem nas pastas para as quais foram nomeados ainda no período de transição de governo ministros de áreas mais técnicas, como Tereza Cristina (Agricultura), Paulo Guedes (Economia), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União) e Bento Albuquerque (Minas e Energia).

Também permanece no mesmo cargo a ministra Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. A pasta conserva a veia ideológica sem instabilidades. Da ala militar, apenas o general Augusto Heleno se segura no mesmo cargo no qual iniciou o governo: o comando do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

O tenente-coronel Marcos Pontes iniciou o governo acumulando a pasta Ciência, Tecnologia e Inovações com a das Comunicações, mas perdeu a última em meados de 2020 para a entrada de Fábio Faria no governo.

Aliado de primeira hora do presidente, Onyx Lorenzoni já ocupou quatro ministérios: Casa Civil, Cidadania, Secretaria-Geral e agora a pasta do Trabalho e Previdência. Ele é considerado uma espécie de coringa dentro do governo, que resiste a romper com o vínculo com o aliado, apesar de ele ter mandato na Câmara dos Deputados até 2022.

Por último, o presidente do Banco Central segue sendo o mesmo: o economista Roberto Campos Neto. Em 2021, o órgão ganhou autonomia e perdeu status de ministério.

 

 

 

mtpl

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