O GECOC (Grupo Especial de Combate à Corrupção) desvendou como ocorreu o pagamento da suposta propina para o secretário municipal de Administração e Finanças de Bonito, Edilberto Cruz Gonçalves, 46 anos, e ao fiscal de obras públicas, o arquiteto Carlos Henrique Sanches. “O Natal vem para todos”, afirma o empresário Genilton da Silva Moreira, que teria efetuado os repasses após o pagamento ser feito pelo município.
Os três e a coordenadora de licitações da cidade, Luciene Cintia Pazette, foram presos na última terça-feira (7), quando houve a deflagração da Operação Águas Turvas. A investigação aponta o desvio de R$ 4,3 milhões da Prefeitura Municipal de Bonito. Os desvios ocorreram na gestão de Josmail Rodrigues (PSDB), que não é investigado nem foi citado no relatório.
As prisões preventivas e os 15 mandados de busca e apreensão foram autorizados pela juíza May Melke Penteado Amaral Siravegna, do Núcleo de Garantias. Ela acatou pedido feito pela 1ª Promotoria de Justiça de Bonito, com o apoio do GECOC e do Gaeco.
O escândalo foi decifrado a partir das Operações Velatus, deflagrada em 13 de agosto de 2024, e Spotless, de 9 de setembro deste ano, que constataram desvios milionários na gestão de Henrique Wancura Budke (PSDB). O prefeito chegou ter a prisão preventiva decretada pelo desembargador Jairo Roberto de Quadros, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. O habeas corpus foi concedido pelo ministro Ribeiro Dantas, do Superior Tribunal de Justiça.
Propinas no cartão postal de MS
Conforme relatório do GECOC, a análise dos dados do telefone celular de Genilton da Silva Moreira revelaram o pagamento de propina para o chefe do tesouro em Bonito, um dos principais destinos turísticos de Mato Grosso do Sul. Do total repassado pelo município, 20% foi destinado para o pagamento de propina.
A Lopes & Lopes, empresa no nome de Nádia Mendonça Lopes, esposa de Moreira, foi contratada para realizar a base de concreto do ginásio de esportes por R$ 199,6 mil. Desse montante, a prefeitura fez o primeiro pagamento, no valor de R$ 102.445,17, no dia 9 de dezembro de 2021.
No dia seguinte, Gonçalves envia mensagem para o empreiteiro para avisá-lo do pagamento. O empreiteiro agradece e combinam um encontro em Bonito. Cinco dias depois, no dia 15 de dezembro de 2021, o empresário faz um Pix no valor de R$ 20 mil para Jerry Gilbertoni, sócio de Gilbert Gilbertoni em duas construtoras, G3 Engenharia e Construtora e Sterro Construtora de Obras, que ficam no Paraná. Para o MPE, o dinheiro era propina para o secretário de Finanças.
No dia 21 de dezembro do mesmo ano, Edilberto Gonçalves lamenta não ter conseguido ninguém para intermediar o pagamento. “Ninguém quer arrumar kkkk”, escreveu para Moreira. No dia 22, ele informa os dados de Sérgio Duarte Coutinho, pai dos irmãos Lucas de Andrade Coutinho e Sérgio Duarte Coutinho Júnior, investigados e denunciados nas operações Parasita e Turn Off. O Pix foi feito após o combinado entre os dois.
Além do repasse de R$ 35 mil para Gonçalves, Genilton da Silva Moreira ainda efetuou o repasse de R$ 5 mil, segundo o MPE, para o arquiteto e urbanista Carlos Henrique Sanches. Ele realizou a medição que viabilizou o pagamento pela obra do ginásio.
“Fica a dica”, diz o fiscal de obras, após informar o empresário da medição. “O Natal vem para todos”, afirma Moreira. Ele fez um saque de R$ 5 mil quando estava em Bonito. “Você deixou no hotel”, questionou o arquiteto. “Sim”, respondeu o empreiteiro. Para o GECOC, a conversa era sobre a propina de R$ 5 mil.

Vem conhecer minha casa
Outro pagamento ocorreu em julho de 2022 e teria sido referência a reforma de pontes de madeira. A empresa de Moreira recebeu R$ 181.989,73. O secretário e o empresário tentam marcar um encontro para realizar o acerto. Primeiro cogitam ir a Miranda, à Capital ou a outro lugar mais fácil para ambos.
No dia 27 de julho de 2022, de acordo com o GECOC, o dono da construtora sacou R$ 30 mil e combinou um encontro com Gonçalves. “Vem conhecer minha casa”, combina. “O, chefe, tamo aqui”, informou o secretário, após receber a localização da residência do empreiteiro em Terenos.
Para o MPE, o valor foi propina referente a reforma das pontes de madeira. Em uma das conversas, o secretário lamenta que a Agesul não repassou para a prefeitura de Bonito realizar as obras de pontes, que ele poderia ter passado para Genilton Moreira.
O relatório do GECOC foi base para o MPE pedir a prisão preventiva dos quatro e os 15 mandados de busca.
fonte: GECOC