*Leda teve seu primeiro filho aos 40 anos, de parto prematuro. A culpa e a impotência surgiram com a distância física imposta pela internação do bebê. A forma inesperada do nascimento também deixou a família incapaz no processo de adptação. Em casa, ela perdeu o apetite, não conseguia dormir, tinha constantes crises de choro e a sensação de não ser capaz de lidar com situação.
Foram dois meses até que o esposo resolveu procurar ajuda médica. “A rotina de UTI Neotatal também contribuíram para sentir meu corpo exausto e minhas emoções a flor da pele. Mesmo deprimida, fiquei totalmente disponível para o meu bebê recém-nascido, mas eu vi muitas mães negando o filho por conta da depressão. Eu e meu esposo procuramos ajuda profissional e confirmamos o diagnóstico de depressão pós-parto”, contou Leda.
Situações como essa são bem mais comuns do que se imagina. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que o transtorno atinge uma em cada quatro mulheres no Brasil. Cerca de 50% dos casos, começam ainda na gestação, só que não são detectados.
Um estudo inédito, realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com 184 mulheres que deram à luz durante a pandemia da Covid-19, apontou que 38,8% delas tiveram depressão pós-parto, sendo que 14% tiveram pensamentos suicidas.
Em Mato Grosso do Sul, a Lei 5.533/2020, de autoria do deputado Lidio Lopes (PATRI), estabelece as diretrizes para a criação da política de diagnóstico e tratamento da depressão pós-parto no sistema de saúde da rede pública e privada do Estado.
Identificar mulheres que sejam portadoras da doença, estimular a produção de estudos e pesquisas, promover a disseminação de informações sobre a depressão pós-parto, buscar medidas para evitar ou diminuir o agravamento do transtorno e cadastrar as pacientes diagnosticadas são alguns dos objetivos da norma.
A Lei 5.533/2020 também instituiu e anexou no Calendário Oficial de Eventos do Estado o Dia de Combate à Depressão Pós-Parto, comemorado, anualmente, no primeiro domingo do mês de março.
“Segundo a pesquisa, a prevalência da depressão pós-parto no País é de 25%, bem mais elevada do que a estimada pela Organização Mundial da Saúde, que aponta para países de baixa renda a média de 19,8%. Portanto, estamos acima da média. Por isso, a necessidade de preparar os profissionais para o diagnóstico e o tratamento”, afirmou Lidio.
O tratamento vai depender do nível da doença e orientação do médico. Pode envolver o uso de medicamentos, psicoterapias e grupos de apoio. Existem remédios seguros tanto para a gestação como durante a amamentação. A ausência de tratamento pode ser prejudicial para o bebê.
*O sobrenome foi omitido para preservar a identidade da entrevistada.
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