Integrante do “PSDB da Constituinte” e filiado ao partido há mais de 20 anos, o ex-senador Aloysio Nunes afirmou em entrevista à CNN na segunda-feira (11) que “o PSDB pode estar em uma fase terminal”. De acordo com o político, falta coerência e unidade interna na legenda.
“É um desastre que foi sendo preparado ao longo dos últimos anos quando o PSDB deixou de ter uma linha política minimamente compartilhada entre os seus membros e que estivesse voltada para as grandes questões nacionais”, disse Nunes.
O ex-ministro das Relações Exteriores de Michel Temer também avaliou que a sigla “ficou inerte diante de fatos gravíssimos que ocorreram na política brasileira e na administração do governo Bolsonaro”. “Há muito tempo, desde o início do atual governo, o PSDB ficou à deriva”, disse.
Nunes considerou ser muito difícil que a sigla consiga eleger um candidato à Presidência da República, visto que “as atenções e preferências são claramente voltadas para Lula e Bolsonaro”.
No entanto, o político considerou que uma possível vitória do partido nas eleições ao governo de São Paulo é um “elemento importantíssimo para a permanência do PSDB como uma força política relevante”.
Quando questionado sobre a cura para essa “fase terminal” da legenda, Nunes pontuou que após as eleições os tucanos deveriam realizar uma “caminhada para o deserto” para definir uma proposta capaz de unificar o partido, mesmo que isso signifique ter um número menor de parlamentares eleitos.
Terceira via
Segundo o ex-ministro, a terceira via é, em grande parte, uma “criação midiática”. Nunes classificou como “ilusão” acreditar que um dos postulantes ao Palácio do Planalto como alternativa ao ex-presidente Lula (PT) e ao presidente Jair Bolsonaro (PL) retire seu nome da disputa para apoiar outro candidato.
“Eles vêm reafirmando com muita ênfase que estão aí para valer e vão até o fim. Acho muito difícil haver um movimento de retirada de apoio e benefício de um outro candidato”, avaliou.
Na opinião do ex-senador, a terceira via não foi capaz de construir uma proposta clara de governo para o Brasil. “Fica concentrada em pequenas intrigas políticas, mas não consegue estabelecer uma pauta em relação a temas importantes como emprego e saúde.”
Nunes disse que João Doria (PSDB) é visto como “uma pessoa que já não tem mais condição de ser candidato”, mas que Eduardo Leite (PSDB) e Simone Tebet (MDB) “em matéria de pesquisa são tão indigentes quanto Doria”.
“A terceira via, para ter substância, precisa ter uma mensagem positiva para o Brasil, isso seria fundamental para que as relações entre os partidos fosse pautada pela grande política e não pequenas intrigas”, afirmou.
Chapa entre Lula e Alckmin
Na visão de Nunes, a aliança entre Lula e Geraldo Alckmin (PSB) acontece justamente por causa de suas diferenças, já que “ninguém se coliga consigo mesmo”.
O ex-senador afirmou que Alckmin nunca se afastou da democracia, e considerou que o PT “tem um testemunho de compromisso com a democracia”.
“Lula se quisesse, com a popularidade que tinha, poderia ter pleiteado um terceiro mandato. Nunca ameaçou fechar o Congresso, nunca ameaçou ser contra o resultado das eleições”, disse.
“Por isso a junção dos dois é uma junção importante para a política brasileira, pois dá a ideia da força, da amplidão dessa coligação”, reforçou Nunes.
Sobre o governo Bolsonaro, o ex-ministro pontuou que a democracia passa “por maus momentos” com o atual presidente, e que uma possível reeleição é “uma ameaça real à democracia”.
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