A tentativa de invasão da Fazenda Santa Eliza no munocípio de Terenos, pertencente ao espólio de Maria Manoelita Corrêa da Costa, mãe da senadora Tereza Cristina (PP), elevou a tensão entre produtores e trabalhadores sem-terra na região. O chamado Grupo Fênix Renascer das Cinzas entrou na Fazenda Santa Eliza, da família de Tereza Cristina, pela manhã desse domingo(30/04), para retirar madeira da reserva legal e foi repreendido por seguranças, que chamaram a Polícia Militar.
O Grupo Fênix, é chefiado por duas mulheres dissidentes de um outro acampamento, que trocou de local na região há pelo menos dois anos.
Logo após a ação da Polícia Militar, que foi apurar o possível esbulho possessório (tentativa de invasão), mas também um crime ambiental (desmate de reserva legal), os sem-terra bateram em retirada.
O engenheiro-agrônomo Fernando Corrêa da Costa Neto, irmão de Tereza Cristina, e um dos proprietários da área que pertence ao espólio de sua mãe disse ao Correio do Estado que, em conversa com outros proprietários da região, existe o rumor de que o grupo pretende invadir fazendas na região.
“Trata-se de uma fazenda extremamente produtiva, tanto nas áreas que nossa família gerencia quanto nas áreas que estão arrendadas”, explicou Fernando Corrêa da Costa Neto.
Ele contou em depoimento que, nas primeiras horas deste domingo, um grupo formado por aproximadamente oito pessoas entrou na reserva legal para cortar vegetação, possivelmente para fazer ainda mais barracos para o acampamento que existe em frente à fazenda.
“O grupo era composto por alguns velhinhos e dois garotões. Os garotões pareciam ser os seguranças. Foi perto da beira do Córrego Cachoeirinha”, contou.
Logo depois que a Polícia Militar chegou ao local, o grupo que entrou na Fazenda Santa Tereza, há alguns meses tentou entrar na Fazenda Sucuri e, agora, ameaçaria a Fazenda Campo Verde.
No início, quando a informação era que a fazenda teria sido ocupada por sem-terra, vários grupos ligados a ruralistas chegaram a atribuir a autoria da ocupação ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Em redes sociais, lideranças do MST, em Mato Grosso do Sul e em Brasília, foram categóricas em afirmar que não havia nenhum envolvimento do MST na invasão.
“O MST em Mato Grosso do Sul vem, por meio desta nota, afirmar que não realizou ocupação em áreas ligadas à senadora Tereza Cristina (PP), em Terenos (MS). Ainda que seja figura proeminente do agronegócio e tenha em seu histórico a condução do Ministério da Agricultura durante o governo (Jair) Bolsonaro, o MST não organizou nem apoiou nenhuma ação em latifúndios da senadora”, afirmou o movimento, em nota.
O MST ainda ressaltou que não promoveu ocupações de terra no mês passado no estado de Mato Grosso do Sul. “No último período, aprofundamos nossas ações de solidariedade, principalmente com indígenas. A partir dos nossos cinco acampamentos e diversos assentamentos no Estado, doamos centenas de quilos de alimentos saudáveis, além de sementes agroecológicas, para diversas comunidades indígenas”, explicou o MST, que ainda repudiou qualquer ligação com a ação realizada pelo Grupo Fênix, também conhecido na região como Movimento Campesino, e criticou a CPI aberta na Câmara dos Deputados para fiscalizar as ações do MST no Brasil.
“Repudiamos a tentativa de vincular a luta do MST à ação ocorrida na propriedade ligada à senadora. Em um momento de avanço da criminalização contra o MST, por meio, por exemplo, da instalação de uma CPI ilegal contra nós, tais vinculações só servem para incitar a sociedade contra a luta legítima do movimento”.
Crítica
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Terenos, Diná Freitas, criticou movimentos como o que tentou invadir a fazenda da família Corrêa da Costa, da qual a senadora Tereza Cristina é uma das herdeiras.
“O propósito desses grupos é levantar de manhã e arrumar um jeito de ganhar dinheiro facilmente. Por que montar acampamento é fácil, né? Difícil mesmo é fazer assentamentos”, disse Diná.
Ela lembrou que o Fênix ou Campesino não tem ligação com movimentos indígenas nem com MST e muito menos com Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Ela acredita que o grupo voltará, mesmo tendo batido em retirada após a tentativa frustrada de invadir a terra ou de ampliar o acampamento.
“Eles vão voltar, porque, quando os movimentos independentes, mais fortes e constituídos junto ao Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] conseguem uma área, eles ficam sabendo e vão para a frente das fazendas e até invadem. Movimentos constituídos, como o nosso, que é sindical, não invade”, afirmou.
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