Mesmo figurando entre os 150 países que apresentaram diminuição do uso do tabaco nos últimos 12 anos, no Brasil 10% a 15% da população ainda é fumante. No entanto, índice já reduziu quase a metade desde 2010, conforme relatório divulgado na última semana pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo a entidade, em 2022, cerca de 1 em cada 5 adultos em todo o mundo era fumante, menos do que em 2000, quando esse número era de 1 em cada 3. Conforme a OMS, o Brasil teve uma redução de 35% dos fumantes desde a última década.
O Dr. Ronaldo Perches Queiroz, médico pneumologista há 40 anos, conta que a iniciativa por deixar o tabagismo vem se mostrando promissora nos últimos anos. “Isso porque no mundo todo, foram adotadas políticas de saúde de prevenção de doenças, de orientação da população sobre os malefícios do tabagismo”.
No entanto, ele aponta que as doenças tabacorrelacionadas continuam sendo diagnosticadas, o que ainda pode levar alguns anos para diminuir. “As doenças tabacorrelacionadas começam a surgir a partir dos 50 anos, então hoje com o avanço da tecnologia, com as técnicas de exames, conseguimos fazer mais diagnósticos, ou seja, caiu o número de fumantes, população envelheceu, então atualmente mais doenças são diagnosticadas”.
As principais doenças relacionadas ao uso do tabaco são a DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) que em mais de 95% das vezes é causada pelo tabagismo e engloba a bronquite crônica e a enfisema pulmonar, problemas cardiovasculares, AVC e câncer de pulmão. “É importante que o diagnóstico seja bem precoce, quanto mais cedo o diagnóstico, mais cedo o paciente faz o tratamento e pode ser instruído para evitar complicações e riscos futuros”.
Conforme o pneumologista, as pessoas já conhecem esses malefícios relacionados ao cigarro convencional e procuram tratamento para abandonar o vício, porém, o alerta é redobrado para os jovens, pois as doenças podem ser agravadas com o uso dos famosos vapes e pods.
“A nicotina é uma substância do cigarro que provoca vício até maior que drogas como a cocaína, é mais difícil fazer alguém parar de fumar, se comparado a fazer um usuário largar a cocaína”, lembra o pneumologista.
Mesmo sendo proibido no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre 2018 e 2022, o número de pessoas que usavam o cigarro eletrônico quadruplicou no Brasil. Foi de 500 mil para 2,2 milhões de usuários, conforme uma pesquisa do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria).
“O cigarro eletrônico é uma praga que tem que ser combatida com todas as forças, aqui no Brasil seu uso é ilegal, mas o número é crescente e vem preocupando todas as autoridades sanitárias e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), pois o cigarro eletrônico veio com uma promessa de que seria um substituto do cigarro para a pessoa deixar de fumar e não faria mal, essa é a propaganda enganosa dos fabricantes”, alertou o profissional.
Dr. Ronaldo explica que o vape ou o pod têm de 5 a 10 vezes mais a quantidade de nicotina que o cigarro comum, logo, ele também causa vício e na combustão da massa para fabricação da fumaça em altas temperaturas são liberadas substâncias tóxicas que também provocam o câncer de pulmão.
Segundo a Associação Médica Brasileira, fumar um tipo de cigarro eletrônico no formato de pen drive, por exemplo, equivale a fumar 20 cigarros convencionais. O perigo da nicotina e outras substâncias tóxicas são disfarçados devido aos aditivos para produzir sabores e aromas.
Os riscos do uso do vape pela população jovem acarreta no agravamento das doenças desde cedo. “O uso do cigarro eletrônico fez surgir um tipo de pneumonia inflamatória aguda grave, os usuários jovens desenvolveram casos de pneumonia com inflamação aguda dos pulmões, levando à insuficiência respiratória, resultando na internação em UTI e posteriormente ao óbito”, esclarece o médico. Essa pneumonia recebeu o nome de Evali e foi identificada nos Estados Unidos, com casos registrados no Brasil.
Projeto de Lei
A senadora Soraya Thronicke apresentou em outubro de 2023 um projeto de lei que propõe a regulamentação do uso de cigarros eletrônicos no país.
O texto trata dos processos de produção, importação, exportação, comercialização, controle, fiscalização e propaganda do produto.
“Nós temos que usar para o cigarro eletrônico a mesma política que foi utilizada para o cigarro comum, a implantação de políticas de saúde de prevenção, de orientação para que as pessoas possam conhecer os malefícios e com o tempo vamos ter uma diminuição da circulação do cigarro eletrônico também. Fica o nosso alerta aos deputados e senadores para colaborem impedindo, não deixando que essa droga seja legalizada no Brasil”, concluiu o médico pneumologista.
dc