Mato Grosso do Sul pode ter o pior ano de casos e mortes causados por dengue desde 2014. Isso porque, de acordo com o boletim epidemiológico publicado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), faltam apenas duas mortes para o Estado bater o recorde da década: 42 óbitos.
A médica infectologista Priscila Alexandrino alerta que, com as chuvas que têm atingido o Estado, pode aumentar o número de criadouros dos mosquitos Aedes Aegypti, o que, consequentemente, faria traria aumento do número de casos e mortes causados pela dengue.
“Nós vemos a perpetuação dos criadouros, muito provavelmente peridomiciliares, que é onde ficam os criadouros. Continuamos tendo focos do vetor, portanto, [pode ocorrer] um aumento do número de casos”, explica.
A infectologista Priscila Alexandrino esclarece que as condições de calor extremo e as irregularidades nas chuvas ao longo do ano podem ter contribuído para o aumento dos locais propícios à proliferação do Aedes aegypti no Estado. Ela destaca que o aumento de mosquitos infectados resulta em uma maior incidência de pessoas infectadas pela doença.
“Então, além de ter mais [pessoas] suscetíveis, quando a gente tem a introdução de um novo subtipo em uma área específica, a gente acaba tendo um aumento do número de casos”.
Neste ano, foram 40.460 casos confirmados e 40 mortes pela doença. O último ano com maior número de mortes e casos foi 2014, com 42 mortes e 41.998 confirmações. No entanto, o número de mortes pode aumentar este ano, já que duas ainda estão em investigação pelo Estado. Os meses mais letais deste ano foram março e abril, com 12 e 11 óbitos, respectivamente.
Os casos de dengue são liderados por municípios do interior do Estado. Na taxa de incidência, ou seja, a proporção de casos pelo número de habitantes, Alcinópolis lidera com taxa de 9.036,8 casos por 100 mil habitantes, seguido por Juti (6.821,2), Anaurilândia (5.605,6), Laguna Carapã (5.324,3) e Antônio João (4.880,1). Campo Grande está na 35ª posição, com taxa de incidência de 1.321,7.
Quanto ao número de mortes, Campo Grande e Três Lagoas dividem o topo neste ano, com seis óbitos cada. Logo após estão Dourados, com cinco casos, e Aquidauana, Laguna Carapã, Juti e Aparecida do Taboado, com duas mortes cada. Os municípios de Guia Lopes da Laguna, Amambai, Ivinhema, Brasilândia, Ribas do Rio Pardo, Naviraí, Mundo Novo, Bela Vista, Rio Verde de Mato Grosso, Douradina, Bataguassu, Novo Horizonte do Sul , Itaquiraí e Coxim tiveram um óbito por dengue cada.
Neste ano, os casos e mortes causados pela doença ultrapassaram os de 2021 e 2022 em menos de seis meses. De acordo com a SES, em 2021, foram registrados somente 8.027 casos confirmados e 14 mortes pela doença. Já em 2022 o número mais que dobrou, com 21.328 confirmações e 24 óbitos.
O número divulgado no último boletim é alarmante, com 11.862 casos a mais que 2022 e mais casos que os dois anos anteriores somados, que daria um total de 39.734 casos confirmados.
A situação se repete quanto ao número de óbitos causados pela doença: neste ano, foram registradas 40 mortes, superando novamente a soma de óbitos dos dois anos anteriores.
Em setembro, a doença causou a morte de três pessoas, no dia 8, uma mulher de 58 anos faleceu em Campo Grande. No dia 29, foram registradas duas mortes, uma em Itaquiraí, de um homem de 43 anos, e a outra em Três Lagoas, de um homem de 83 anos.
VACINA
Ontem, o Ministério da Saúde abriu consulta pública com a proposta de incorporar a primeira vacina contra a dengue ao Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a Pasta, o imunizante Qdenga já está em avaliação pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
Em nota, o Ministério da Saúde informou que, após reunião realizada na quarta-feira, considerando o cenário epidemiológico, a comissão recomendou a incorporação do imunizante inicialmente para localidades e públicos prioritários, que serão definidos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI).
A definição dos grupos e localidades deve considerar as regiões de maior incidência e transmissão da dengue e as faixas etárias de maior risco para agravamento da doença. A restrição de público, segundo o Ministério, também leva em conta a capacidade de fornecimento de doses por parte da fabricante.
Todas as recomendações de incorporação de medicamentos e insumos feitas pela Conitec são submetidas à consulta pública por um período de 20 dias. A Pasta destacou, entretanto, que, considerando a projeção epidemiológica para o próximo verão, com a possibilidade de aumento de casos de dengue, a consulta ficará aberta pelo prazo de 10 dias.
“Depois desse período, as sugestões serão organizadas e avaliadas pela comissão, que emitirá uma recomendação final”. Uma vez incorporada, a vacina Qdenga deve ser administrada em esquema de duas doses, com intervalo de três meses.
Atualmente, não há no Brasil um medicamento específico para combater o vírus da dengue no organismo humano. Enquanto a vacina não é liberada, as medidas mais comuns contra a dengue são externas, de combate ao mosquito Aedes aegypti – transmissor de dengue, chikungunya e zika –, como evitar água parada nos quintais e remoção de resíduos de pavimentos públicos. O tratamento envolve a diminuição dos sintomas com medicamentos como paracetamol e dipirona.
DENGUE TIPO 3
Em maio deste ano, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já apontava o retorno do sorotipo 3 da dengue. Na última semana, a cidade de Votuporanga, no interior de São Paulo, confirmou quatro casos desse tipo. O primeiro caso, de uma mulher de 34 anos, chamou a atenção pela intensidade dos sintomas clássicos da doença, como febre, vômito, dor, manchas vermelhas no corpo e sangramento nasal e urinário.
A Secretaria Municipal de Saúde de Votuporanga tomou medidas de bloqueio, identificando a circulação do sorotipo. Sete casos foram considerados suspeitos, e o resultado das amostras revelou que três eram do tipo 3 da dengue, todos do sexo feminino, com idades de 5 anos, 31 anos e 46 anos. Todos os casos concentraram-se na mesma região, em um bairro da zona sul da cidade. Os quatro pacientes estão em casa e se recuperam bem.
A Fiocruz alerta que a dengue possui quatro sorotipos, e a imunidade adquirida contra um deles não protege contra os demais. Como poucas pessoas tiveram contato com o tipo 3, há um risco potencial de epidemia em razão da baixa imunidade.
Entre os sintomas de alerta estão febre, manchas vermelhas no corpo, dor abdominal, vômito persistente e sangramento na gengiva, no nariz ou na urina. Em caso de qualquer sintoma, é fundamental procurar atendimento médico na unidade de saúde mais próxima.
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