A Medicina Veterinária é importante para o cuidado da vida dos animais, desde os menores até os maiores, silvestres ou domésticos. Nesta profissão, existem diversas especialidades, sendo uma delas a odontologia veterinária.
Ana Vilela, é odontoveterinária desde 2016 e o interesse surgiu a partir do contato com a especialidade por meio da orientação de uma professora, pela falta de profissionais especializados e uma necessidade emergente dos cuidados com a saúde oral.
Os casos mais frequentes são as doenças periodontais nos cães e nos gatos e duas enfermidades graves, que podem levar os animais a pararem de se alimentar: Lesão de reabsorção, caracterizada por um defeito de esmalte, dentina e cemento, em geral, na porção cervical, podendo estar coberta por placa bacteriana, cálculo, gengivite ou hiperplasia de gengiva, e a gengivoestomatite, uma síndrome que caracteriza-se por lesões orais, tipicamente bilaterais e ulceradas que causam intenso desconforto, levando a quadros de disfagia, anorexia e emagrecimento. Há ainda outras patologias recorrentes nos atendimentos como as neoplasias de cavidade oral, tumores, cânceres, fraturas de mandíbula decorrentes de atropelamentos, brigas dentre outros traumas.
Muitos tutores não se comprometem com os cuidados de prevenção e os tecidos orais acabam sendo agredidos cronicamente por bactérias e infecções provenientes da falta de escovação, o que leva a perda dentária. ‘’Os cuidadores dificilmente usam estratégias de prevenção, seja escovação, administração de biscoitos de prevenção, brinquedos e demais utensílios para exercício periodontal”, relata Ana.
Entretanto, os cuidadores na maioria das vezes se incomodam com a halitose dos pets, porém não procuram o atendimento odontológico, contribuindo para uma série de descuidos que causam a perda do elemento dental. ”Se houvesse mais cuidado, certamente os animais seguiriam até o fim da vida com dentes. Não é normal perder dentes, mesmo se for idoso”, aponta.
Os animais, assim como os humanos, possuem sensibilidade e todas as questões fisionômicas que fazem com que sintam dor. Todos os problemas que acometem pessoas, podem acometer os bichos, então todo cuidado é pouco.
Laserterapia e o bem-estar dos pacientes
O procedimento se trata de uma terapia adjuvante que utiliza luz de baixa potência para alívio de dores e aceleração da cicatrização de úlceras e estomatites. Há estudos que mostram a utilização do laser para a redução do tamanho de lesões, além de restabelecer mais rapidamente áreas lesionadas nos casos de estomatite.
Como cuidar da saúde bucal dos pets
Durante a migração dos dentes, por volta dos 5 a 6 meses de idade, é necessário fazer uma avaliação com o dentista. Várias doenças começam a ser identificadas a partir dessa fase e podem ser ocasionadas por uma ineficaz troca de dentição, ou seja, a transição do dente de leite para o dente permanente.
O acompanhamento periódico, aliado a escovação dental com produto veterinário e a frequente inspeção da cavidade oral pelo proprietário fazem a diferença na hora de manter a higiene oral. ”Se o proprietário abre a boca do cão, por exemplo, e verifica as bochechas, facilmente ele observa alterações. Não só tártaro e doenças periodontais. Estou falando de neoplasias também, uma mancha, aumento de volume, pinta preta dentro da boca’’, afirma a veterinária que atende na Odontopet.
O tártaro é uma disfunção comum e se trata da formação mineralizada da placa bacteriana, principalmente em cães. A falta de tratamento pode ocasionar graves problemas. Ela começa com o biofilme, uma película gelatinosa, e depois vai mineralizando até evoluir para o tártaro.
As bactérias provenientes da superfície do dente podem migrar para a corrente sanguínea por anacorese e atingir órgãos vitais, como rins, fígado, pâncreas e coração. Tratar a doença periodontal é fundamental para promover saúde e vitalidade para esses tecidos. A longevidade do animal depende de saúde oral e cuidados diários com o pet.
A médica enfatiza a consulta com o pet para o tutor entender as necessidades do animal e ter a oportunidade de identificar algum detalhe que passou despercebido referente à sua saúde e prevenir problemas graves.
A servidora pública Armênia Rodrigues, começou a notar um cheiro forte no corpo todo de seu gato que ganhou o apelido carinhoso de ‘Fedidinho’ . O felino se lambia muito e sua dona percebeu que o mau cheiro vinha da boca. Durante uma consulta de rotina, na veterinária, que aplica as vacinas do animal, foi constatada uma rânula, lesão resultante do extravasamento de saliva da glândula sublingual, no interior da boca do gato. As gengivas também estavam inflamadas.
Logo, Armênia recebeu orientações e o encaminhamento à uma clínica odontológica para retirar a rânula e precisou retirar alguns dentes do animal. As consultas odontológicas sempre foram realizadas pelo menos de três em três meses mas devido às inflamações dentais cada vez mais frequentes, as idas ao odontoveterinário precisaram aumentar.
‘’Além de ir no dentista veterinário, eu escovo os dentes. Dá trabalho. Uso pasta específica e aquelas com gosto de biscoito de pet. O ideal é até escovar pelo menos uma vez ao dia antes de apresentar qualquer inflamação’’, ressalta a servidora.
Ela acredita que há um descuido grande por parte dos donos de pets, por não entenderem a real necessidade e importância de manter esses cuidados com os animais domésticos. ‘’A gente demora a entender que eles também necessitam. Há muita negligência por falta de conhecimento’’, finaliza.
Portanto, no que se refere à saúde oral, a máxima ‘’os bichos são gente como a gente’’ também se aplica. A boca tanto de cães como de gatos pode receber visitas indesejadas de bactérias, e por isso, cuidados de prevenção e higiene devem iniciar o quanto antes para evitar problemas futuros e garantir vida longa e saudável aos pets.