A Polícia Federal apura se o esquema investigado pela Operação Cupincha usou empresas de consultoria e turismo para lavar o dinheiro supostamente desviado da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá.
A informação foi repassada pelo delegado Charlie Cabral Motta, chefe da delegacia de Combate a Corrupção da PF, durante uma entrevista coletiva na sede da entidade na capital do Mato Grosso.
A operação foi deflagrada hoje e resultou na prisão do ex-secretário municipal de Saúde, Célio Rodrigues, e do empresário Paulo Roberto de Souza Jamur.
O delegado não informou nome de nenhuma empresa alvo da operação. Mas a reportagem apurou que uma delas é a Hipermed Serviços Médicos & Hospitalares Ltda, que tem contratos com a Prefeitura de Cuiabá.
“Apurou-se durante as investigações [que houve] algumas transferências suspeitas para empresas de turismos e consultoria, que deve ser objeto de aprofundamento das investigações, que são potenciais desvios de recurso e usadas para ocultar valores subtraídos da saúde pública”, disse o delegado.
Alegando que o processo está sob sigilo, Motta também não repassou os nomes das empresas supostamente usadas na lavagem de dinheiro.
Na primeira fase da operação, deflagrada em julho, foram investigadas movimentações financeiras da empresa Smallmed Serviços Médicos e Hospitalares com uma agência de viagem e com uma consultoria em gestão empresarial.
São elas: Desta Turismo Agência de Viagem Eirel e Paulo Roberto Assessoria Consult e Planejamento Ltda. A última pertence a Paulo Roberto de Souza Jamur.
“Quarterização”
As investigações ainda apura supostas “quarteirizações” de contratos administrativos firmados por empresas com a Secretaria de Saúde.
“O Município de Cuiabá, por meio da Secretaria de Saúde e Empresa Cuiabana da Saúde Pública, contratava empresas para realizar os seus serviços, por tanto uma terceirização. Essas empresas, terceirizadas, contrataram outras para realizar uma parte ou todo o serviço, daí o nome ‘quarteirização’”, explicou o delegado.
A quarteirização pode ser usada para ocultar o beneficiário final do dinheiro público, uma vez que a empresa “quarteirizada” não tem nenhum contrato com a administração pública, mas recebe recursos indiretamente.
Conforme as investigações, o esquema supostamente beneficiaria o ex-secretário Célio Rodrigues, que chegou a ocupar cargo de diretor na Empresa Cuiabana de Saúde. Esses benefícios incluem ainda o pagamento de suas despesas pessoais.
“E provavelmente foi esse mecanismo para desvio de parte dos recursos que vieram do orçamento municipal”, afirmou o delegado.
A PF ainda apontou que a aproximação entre as atividades públicas e privadas dos investigados envolveu a aquisição da Cervejaria Cuyabana, com sede em Várzea Grande, em que teriam se associado, de forma oculta, Célio Rodrigues e o empresário Paulo Roberto.
A empresa foi adquirida do empresário Ricardo Sguarezi, em fevereiro deste ano. Sguarezi foi delator da Operação Rêmora, deflagrada no Governo Pedro Taques.
Corrupção e lavagem de dinheiro
A PF apurou na primeira fase da Operação Curare que um grupo empresarial, que fornece serviços à Secretaria Municipal de Saúde, recebeu, entre os anos de 2019 e 2021, mais de R$ 100 milhões dos cofres municipais.
Segundo a PF, há suspeitas dos crimes de corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro.
Célio Rodrigues e Paulo Roberto tiveram mandados de prisão temporária cumpridos em Cuiabá e Curitiba (PR), respectivamente. Já a sede da Cervejaria Cuyabana foi alvo de um mandado de busca e apreensão.
De acordo com as investigações, o grupo manteve-se à frente dos serviços públicos mediante o pagamento de vantagens indevidas, seja de forma direta ou por intermédio de empresas de consultoria, turismo ou até mesmo recém-transformadas para o ramo da saúde.
Após o ingresso dos recursos nas contas das empresas intermediárias, muitas vezes com atividades econômicas incompatíveis, os valores passavam a ser movimentados, de forma fracionada, por meio de saques eletrônicos e cheques avulsos, de forma a tentar ocultar o real destinatário dos recursos.
A movimentação financeira também se dava nas contas bancárias de pessoas físicas, em geral vinculadas às empresas intermediárias, que se encarregavam de igualmente efetuar saques e emitir cheques, visando a dissimulação dos eventuais beneficiários.
Paralelamente, o grupo empresarial investigado na primeira fase da Operação Curare promovia supostas “quarteirizações” de contratos administrativos, que viriam a beneficiar, em última instância, o servidor responsável pelas contratações com a Secretaria Municipal de Saúde e Empresa Cuiabana de Saúde Pública, incluindo o pagamento de suas despesas pessoais.
O nível de aproximação entre as atividades públicas e privadas dos investigados envolveu a aquisição de uma cervejaria artesanal, em que se associaram, de forma oculta, o então servidor público e o proprietário do grupo empresarial investigado.
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