O grupo ‘Os Legendários’, que ficou conhecido por promover retiros espirituais com atividades físicas na natureza, foi barrado do Parque Nacional da Serra da Bodoquena. A restrição ocorreu após o grupo descumprir normas de visitação estabelecidas pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Conforme o Instituto, as dinâmicas e o formato das atividades realizadas pelo grupo não se encaixam nas regras e nas características das trilhas do parque. Por isso, consideram que o local não é o mais adequado para eles.
Segundo explicação, as restrições ocorreram, principalmente, porque o grupo não seguiu as regras de visitação estabelecidas pelo Instituto. Uma dessas regras diz respeito à capacidade de suporte de 100 visitantes/dia, com grupos de, no máximo, 10 pessoas.
Dessa forma, quando grupos grandes desejam visitar o parque, eles precisam ser desmembrados em subgrupos, respeitando a lotação máxima, e considerando, ainda, agendamentos realizados por outras pessoas.
“Quando [o parque recebe grupos grandes] o ICMBio costuma designar uma equipe de servidores para acompanhar as atividades e garantir o cumprimento das normas. Os Legendários possuem dinâmicas próprias e necessidades de aglomeração que não se adequam às normas e características das trilhas do Parque. Em nosso entendimento, a área não é a mais apropriada para as atividades do grupo”, ressaltou o Instituto.
Dentre as principais normas de visitação que não foram cumpridas pelo grupo, o ICMBio destacou:
- Formação de grupos de no máximo 10 pessoas, os quais devem estar acompanhados de pelo menos um Condutor de Visitantes autorizado pelo ICMBio;
- Os grupos são dispostos na trilha com pelo menos 20 minutos de intervalo entre os mesmos;
- Não realização de dinâmicas de aglomeração nas trilhas. Os grupos formados não devem se juntar de maneira deliberada nas trilhas;
- Cumprir as demais normas de visitação da Unidade de Conservação, em especial os constantes no Termo de Assunção de Risco.
De toda forma, o órgão destaca que o grupo é bem-vindo, desde que siga as orientações e regulamentos do espaço. “Porém, estão sendo abertas novas trilhas no Parque e esse quantitativo máximo será estendido muito em breve”, completou o Instituto.
Atividade foi desencorajada por Dom Dimas
Na última semana, o arcebispo de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa, e o chanceler do arcebispado, padre Dr. Edmilson José Bento, reforçaram em nota que o ‘Legendários’ não é um movimento católico. Eles também reforçaram que a proposta espiritual do movimento não está em comunhão com os meios católicos ordinários de santificação e formação cristã, como os sacramentos, o magistério da Igreja e a vida comunitária paroquial, “de modo que não se configura como expressão autêntica da espiritualidade católica”.
Ainda na nota, Dom Dimas reforçou que o movimento não pode ser confundido com os acampamentos da igreja católica. São esses os acampamentos sênior, de famílias, juvenil, FAC, mirim, entre outros. “Em suma, tal movimento não é promovido pelas nossas paróquias e lideranças e não é recomendado a nenhum dos nossos fiéis”, pontua.
Basicamente, o fato de não ser um grupo católico resumiria os conflitos, mas outros pormenores destacados na nota reforçam as razões que levaram ao alerta. Confira:
1) É espiritual, mas não católico
A intenção de escrever a carta surgiu após vários fiéis perguntarem à líderes da Igreja em Campo Grande (MS) se era correto participar do Legendários.
A partir disso, a carta foi escrita sob o argumento de que o movimento não é católico e isso já bastaria para não ser recomendado aos membros da comunidade cristã.
2) Legendários não dialoga com dogmas da Igreja Católica
A proposta espiritual dos Legendários é outro ponto que conflita com a Igreja Católica, conforme a carta, pois não está em comunhão com os meios ordinários de santificação e formação cristã da religião, como os sacramentos e a vida comunitária paroquial. Desse modo, não se configura uma expressão autêntica da espiritualidade católica.
3) Exercícios e desafios físicos intensos
Ainda que não se defina pertencente a alguma religião, o Legendários foi fundado por um pastor e prega valores humanos sensíveis, mas com atividades não validadas pela Igreja Católica Apostólica Romana, como a prática de exercícios físicos para a restauração do espírito.
A carta enfatiza que, assim, o Legendários incentiva experiências imersivas de cunho espiritual não católico, exercícios e desafios físicos intensos ao ar livre como métodos para regeneração espiritual — algo que a Igreja não compactua, pois oferece riscos à saúde física e emocional dos participantes.
4) Personalidades evangélicas atuam como porta-vozes
O fato do grupo trabalhar fortemente a adesão de figuras públicas, de empresários, influenciadores digitais e personalidades do mundo evangélico também contradiz o catolicismo e é reforçado na carta.
Nesse contexto, como o movimento é encabeçado por lideranças de outra religião, é desaconselhado a quem faz parte de comunidades católicas.
Vale reforçar que o bispo não proibiu os fiéis de fazerem parte do Legendários, mas emitiu sua recomendação motivado por um questionamento dos mesmos.
Pastor se pronunciou
Após a declaração do Arcebispo de Campo Grande, desencorajando a participação de católicos em atividades do movimento Legendários, Abel Rodrigo Monteiro, pastor integrante do grupo espiritual, se manifestou.
“Nós Legendários não interferimos na liberdade das pessoas, o líder religioso da igreja católica pode expressar a opinião dele. Continuamos com as portas abertas para todo homem que concorde com os princípios judaicos/cristãos. Acredito que cada homem tem a capacidade de decidir se vai participar ou não”, declarou Abel.
Sobre o grupo
Conhecidos como “Os Legendários”, o grupo se trata de um “movimento de homens que busca restaurar o desenho original do homem: um líder que ama, honra e une”. Ainda que não se defina pertencente a alguma religião, os Legendários foi fundado por um pastor e prega valores humanos sensíveis. Além disso, o movimento incentiva as experiências imersivas de cunho espiritual, além dos exercícios e desafios físicos.
mdx