Os suspeitos de integrar uma quadrilha especializada em assaltos a banco aos moldes do “novo cangaço”, tática também conhecida como “domínio de cidades”, planejaram uma ação em Varginha (MG) com o uso de 40 kg de explosivos e armamento com capacidade para abater um helicóptero, de acordo com a PM-MG (Polícia Militar de Minas Gerais). O material foi apreendido ontem após a operação policial que deixou 26 mortos na região rural da cidade mineira.
Segundo a PM-MG, que monitorava a quadrilha, a ação seria colocada em prática até a madrugada de hoje. O grupo pretendia atacar uma central de valores uma central de valores do Banco do Brasil. Era o mesmo tipo de alvo do atentado da madrugada de 30 de agosto em Araçatuba (SP), em uma investida com o objetivo de roubar R$ 90 milhões, segundo revelou o UOL.
Após o confronto em duas chácaras na região rural de Varginha (MG), agentes do esquadrão antibombas do Bope, a tropa de elite da PM mineira, isolaram uma área de 3,5 km² para detonar os 40 kg de explosivos encontrados no local.
“O material encontrado lá tinha uma capacidade de destruição muito grande. Foram apreendidos fuzis. Até mesmo um ponto 50 [fuzil com capacidade para abater um helicóptero]”, disse a capitão Layla Brunnela, porta-voz da PM de Minas Gerais.
Inicialmente, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que 25 suspeitos foram mortos no local. No entanto, a informação foi atualizada no fim da tarde de ontem, chegando a 26 mortes. Segundo a PM, isso ocorreu após uma verificação dos corpos levados para hospitais da região.
Hoje, em entrevista coletiva, peritos do IML (Instituto Médico-Legal) disseram que ainda não há prazo definido para que os corpos sejam identificados. Além da coleta das digitais, também estão serão realizadas análises de DNA para que haja a comparação com um banco nacional de perfis genéticos
“Serão buscadas coincidências com materiais recolhidos em outros estados, o que poderá ajudar a esclarecer uma possível relação com outros crimes”, afirmou a médica-legista Tatiana Telles.
A força-tarefa montada para a identificação dos mortos conta com cerca de 50 pessoas. Os trabalhos começaram na noite de domingo. Segundo a Polícia Civil, alguns possíveis parentes dos suspeitos já procuraram o IML, mas ainda não houve nenhuma confirmação de identidade.
Olheiros alertaram através de confronto
Ainda de acordo com a PM, ocorreram dois confrontos simultâneos, já que os suspeitos estavam em duas chácaras diferentes, que costumam ser alugadas para eventos.
Segundo a corporação, os policiais se aproximaram do local usado pelos suspeitos a pé em áreas de mata. Mas, de acordo com a PM, foram identificados por “olheiros” do grupo, que abriram fogo na direção dos agentes nos dois locais onde ocorreram as mortes.
“Eram guardas do grupo que vigiavam o entorno. Assim que perceberam a chegada dos policiais, já iniciaram o confronto”, explicou a capitão Layla Brunnela.
A PM informou, ainda, que foi aberto inquérito policial militar para apurar as circunstâncias da ação, que também está sendo monitorada pela comissão de direitos humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Minas Gerais.
De acordo com a corporação, todos os 26 suspeitos mortos foram levados com vida aos hospitais da região. Especialistas em Segurança Pública ouvidos pelo UOL não descartam a hipótese de desfazimento de cena do crime.
” É uma informação, no mínimo, questionável. É difícil imaginar que todos os suspeitos sobreviveram inicialmente a uma troca de tiros com armas de alto poder de fogo. [A retirada dos corpos] esvazia a investigação e o laudo de perícia de local. Não estou dizendo que houve uma adulteração da cena do crime, mas isso precisa ser investigado”
Cássio Thyone Almeida de Rosa, perito federal aposentado e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,alertou.
Luis Felipe Zilli, sociólogo e pesquisador da Fundação João Pinheiro, entende que a ação poderia ter sido melhor planejada.
A Polícia Militar teve uma semana para planejar essa ação, que foi feita sem a participação da Polícia Civil. Com a morte dos suspeitos, também se perde a oportunidade de buscar informações que seriam fundamentais em investigações contra o novo cangaço no Brasil”, analisa o sociólogo.
O UOL teve acesso a uma lista de dez ataques a centrais de distribuição de dinheiro do Banco do Brasil em um intervalo de cinco anos com roubos com a mesma tática, com ataques a municípios pequenos com fuzis, explosivos e veículos blindados.
Essas unidades executam a função do Banco Central em cidades do interior. E funcionam como uma espécie de reserva de cédulas para outras agências, armazenada com base em depósitos compulsórios —como é chamada a alíquota obrigatória de 17% que não pode ser movimentada para garantir a segurança nas operações com notas. Os dados das ocorrências indicam uma escalada da violência nas ações, em cidades com até 150 mil pessoas —exceção a Araçatuba (SP), com 200 mil; e Uberaba (MG), com 333 mil moradores. Varginha (MG) tem cerca de 137 mil.
No ataque a Passos (MG), em abril de 2018, os criminosos passaram a usar armas com calibre ponto 50. Em Ourinhos (SP), em maio de 2020, esses ataques passaram a contar com o monitoramento com o auxílio de drones.
om mortes, reféns e uso de explosivos, o assalto a agências bancárias em Araçatuba é apontado como o mais violento do tipo nos últimos dois anos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O número de detonadores foi o maior da história do país, segundo levantamento inédito feito pela Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança a pedido da reportagem do UOL.
uol