A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) encerrou nesta quinta (19) sua participação no Fórum Econômico Mundial, em Davos, com uma breve contribuição em painel sobre a Amazônia, do qual saiu aplaudida, e um encontro com um grupo de jovens ativistas ambientais do qual faz parte a sueca Greta Thunberg – uma reunião que diz tê-la comovido.
“Era um grupo de mulheres jovens muito determinadas, muito comprometidas, e que estão criando um impacto positivo na agenda de combate ao desmatamento, à emissão de CO2 e de proteção do equilíbrio do planeta”, disse Marina a jornalistas brasileiros.
“Obviamente me recordei de quando comecei essa luta aos 17 anos, quando eu conheci o Chico Mendes, e é muito bom verificar que temos já uma terceira geração de ativistas.”
Para Marina, a diferença é que ela fazia isso isoladamente, da floresta, “protegendo a floresta com os nossos próprios corpos” (Chico Mendes foi assassinado por causa de seu ativismo). “Agora eles têm uma tecnologia que faz dos impactos [do ativismo] globais.”
A ministra recebeu do grupo uma carta – a mesma entregue ao diretor da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, na qual elas pedem o fim do uso de combustíveis fósseis. Além de Greta, assinam o documento a equatoriana Helena Gualinga -a única que participa oficialmente do fórum deste ano-, a nigeriana Vanessa Nakate e a alemã Luisa Neubauer.
Marina afirmou que o pleito das ativistas deve ser levado a sério pelas lideranças mundiais, pois há uma depressão geracional com o futuro. “Essa é uma cobrança para todos nós, empresas, governos, cidadãos, e temos que nos sentir eticamente constrangidos, porque o que está em jogo é o futuro dessa juventude.”
Ao longo do evento, a ministra teve três compromissos com o representante do governo norte-americano para o clima, John Kerry, que deve ir ao Brasil em fevereiro, antes da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos Estados Unidos, marcada para o dia 10 daquele mês.
Os dois falaram de compromissos e cooperação -no último encontro do fórum, em maio, Kerry cobrara do Brasil sob o governo de Jair Bolsonaro (PL) fazer mais pela proteção ambiental. Um dos âmbitos de uma eventual aliança é a preservação de florestas, em um grupo do qual participariam ainda Indonésia e RDC (República Democrática do Congo), países também com vasta vegetação tropical e dilemas econômicos.
Marina participou do fórum junto com seu colega Fernando Haddad (Fazenda), e os dois mostraram um discurso bastante alinhado. A ministra sublinhou a preocupação econômica e a necessidade de agendas conjuntas com outras pastas, sobretudo da Agricultura, na maioria de suas declarações, enquanto o titular da Fazenda ressaltou o compromisso ambiental para o crescimento econômico e a posição do país na cadeia de produção como um polo de energia limpa.
Considerada no evento uma referência na área, a ministra também se reuniu com dirigentes de organizações multilaterais, organizações não governamentais de proteção ambiental, executivos, investidores e filantropos com o objetivo de não apenas vender o compromisso brasileiro com a chamada agenda verde como também de levantar fundos para promovê-lo.
Diante das expectativas, Marina também frisou a necessidade de o Brasil agir, não apenas discursar, para fazer sua “lição de casa” -talvez a expressão mais repetida no fórum quando se fala em preservação ambiental.
Para isso, segundo ela, o país terá de zerar desmatamento, mostrar compromisso com as metas de redução de emissões de gases-estufa fixadas pelo Acordo de Paris, proteger populações indígenas, extirpar o crime organizado e seus braços no garimpo e nas madeireiras e fazer isso de forma economicamente viável.
O projeto Planeta em Transe é apoiado pela Open Society Foundations.
ag.brasil