Uma carreira na vida pública moldada na polarização e que agora busca se voltar a uma “terceira via” para o Brasil. Discretamente, é a transição que Tereza Cristina, senadora da República, busca aos poucos, para que o PP “herde” a Direita brasileira, sem a barulheira estriônica do bolsonarismo. Acontece que, é justamente a ponta radical do anti-PT, que significa, pelo atual cenário de poder, a sobrevivência ao fenômeno que tem pautado a política brasileira há pouco mais de uma década.

Movimento da “também ex-ministra” de Jair Bolsonaro, demonstrado, recentemente, na sua conta do X, que rendeu muitas críticas endereçadas por apoiadores do ex-presidente. Um famoso “três cantos”, que já ocorreu no passado com outras figuras do espectro dito conservador, como, por exemplo, João Dória, governador de São Paulo, eleito com o apoio do “Mito”, pra depois se mostrar um político independente e até um “presidenciável sem largada”.
Na prática, Tereza não manifestou nenhuma adesão gritante a Lula, mas foi efusiva ao comentar, em sua conta nesta rede social, sobre um assunto que significou uma vitória do atual governo brasileiro. Para a senadora, o agronegócio do país vê com alívio, a redução parcial das tarifas impostas pelos Estados Unidos, expressão de um post que mirava ser técnico e acabou sendo obviamente política em virtude da vigilante polarização.
“Os 40% não caíram ainda, mas temos visto sinais importantes de que a diplomacia estatal e empresarial podem fazer a diferença”, destacou Tereza, no comentário que cita ainda “finalmente uma notícia positiva”. Liberdade de Expressão que rendeu, só nas primeiras horas da publicação, 200 mil visualizações, muito observada pela Direita em algo que define o carisma de um político ligado a essa ala: a postura pragmática de contraponto à Esquerda.
Bem protegida antes, mas agora…
Coadjuvante de luxo, em várias fases da sua trajetória, a senadora da FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio) sempre foi bem blindada por líderes com “mãos de ferro”. No seu prólogo, como secretária de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo, no Governo Puccinelli, teve a gestão de uma “super pasta” e todos o suporte para ser depois eleita deputada federal. Naquela altura o PT sul-mato-grossense era o adversário a se polarizar.
No capítulo seguinte, na aproximação a Reinaldo Azambuja, ganhou fôlego na vida pública, impulsionada pela troca de lado e por uma boa representatividade alcançada no Congresso Nacional. Uma escolha que a fez ir para a amizade com um ninho político, que disputava hegemonia justamente com o MDB de André Puccinelli, mas para Tereza tudo foi “bem compreensivo”.
Abonada, pode se destacar ainda para uma coroação no 2° turno das Eleições de 2018. Oportunidade que ela foi decisiva para que Jair Bolsonaro apoiasse o candidato tucano em Mato Grosso do Sul. Na sequência, já como ministra da República, foi um dos xodós do presidente, quase sempre citada em discursos sobre resultados do seu governo. Elogios que serviam como ordenamento geral para que Tereza fosse bem blindada, na forte polarização do país.
Caminho aberto adiante, ao ostentoso resultado de 829.149 mil votos, que a tornaram senadora, o equivalente a 60% de todos os eleitores que fizeram escolhas naquela disputa em Mato Grosso do Sul. Triunfo que teve muita participação do público da extrema-direita, nicho que agora pode se afastar gradualmente de Tereza, devido ao seu afã de refundar o “conservadorismo brasileiro”.
Mesmo que a intenção tenha os seus méritos, por tratar a política com mais lucidez, do que as paixões da polarização, a conta não é simples como parece. Isso porque, os dois lados que protagonizam o debate de 2026, são bem armados quanto a engajamento, situação que não acontece com o centro. Por isso a chuva de críticas a Tereza tende a ser impiedosa, seja nesta articulação ou em outras, panorama, inclusive, ao qual ela não é acostumada.
A senadora é hoje uma figura grande, alguém que oferece proteção, porém não é protegida, questão que deve sim a desidratar caso “teime” em elogiar Lula, ou criticar Bolsonaro, e vice-versa. Alicerçada pelo municipalismo, Tereza também enfrenta o problema de diversas administrações municipais que apoia não terem emplacado o sucesso esperado para 2025. Em suma, com tanta neblina na frente, na dúvida o melhor seja não postar, não falar e aguardar um melhor tempo.
Certo é, que, a visibilidade para ter uma maior autonomia segue em incógnita. Bem diferente da certeza que Tereza tinha para se manifestar, pela FPA em outros tempos, ou qualquer outra coisa, quando teve o aval de Bolsonaro, de Reinado antes, ou a “carta branca” que já teve de André Puccinelli. Entretanto, qual será a sua atividade, diante da “próxima notícia positiva”, seja ela da Direita ou da Esquerda?
Até porque, a “bola dividida” rendeu uma clara ansiedade da líder ruralista , bem lembrada por um dos detratores da postagem. Donald Trump recua nos 10% sobre a importação de carne bovina, café, tomate, banana e outros produtos primários, contudo mantém ativa a taxa extra de 40%, adotada desde agosto. Eduardo Bolsonaro, que no momento tem duras posições quanto a Tereza, definiu como “Fake News” a informação de que a guerra tarifária caminha para o fim.
Pelo visto, o impasse dependerá de muito mais paciência, novas rodadas e outras iniciativas de destencionamento da “Diplomacia Empresarial”, ou dos Governos, do Brasil e dos Estados Unidos.
ojc
