Faltando ainda quase oito meses para a Copa do Mundo do Catar, a seleção brasileira se despediu dos estádios do País na noite desta quinta com festa. Se a atuação não foi uma primazia ao logo dos 90 minutos, a goleada por 4 a 0 sobre o Chile ao menos foi inconteste e deu ao torcedor que lotou o Maracanã a esperança de que o time pode, sim, sonhar com o hexa no fim do ano.
Havia quase 13 anos e meio que a seleção brasileira não fazia um jogo de Eliminatórias no Maracanã. É verdade que no período o mais icônico estádio do futebol brasileiro foi palco de quatro decisões envolvendo a seleção – duas de Copa América, uma de Copa das Confederações e outra de Jogos Olímpicos -, mas essa sensação de abrigar um jogo que leva para a Copa do Mundo estava em falta. Talvez por isso que nessa quinta, na última partida do Brasil em solo nacional antes do Mundial do Catar, os quase 70 mil torcedores que lotaram o estádio tenham abraçado o time de forma contundente.
O clima nas arquibancadas era o melhor possível. Diferente do que fizera em outras épocas, a CBF vendeu as entradas com preços não tão distantes daqueles praticados em jogos da Série A. Assim, o público tinha o mesmo perfil, o do torcedor que grita, que canta e que provoca o adversário – às vezes até com termos impublicáveis. Para se ter uma ideia, antes da partida os jogadores do Chile tiveram de aquecer no belo gramado do Maracanã aos gritos de “eliminado, eliminado.”
O torcedor também demonstrou sentimentos distintos em relação à seleção brasileira. Neymar foi ovacionado quando teve o nome anunciado pelo sistema de som. Os ex-flamenguistas Lucas Paquetá e Vinícius Jr foram muito aplaudidos. O técnico Tite, por sua vez, teve de ouvir forte vaia, talvez a maior desde que assumiu a seleção, há quase seis anos.
Tamanho entusiasmo nas arquibancadas foi correspondido em campo no primeiro tempo, em especial pelo trio ofensivo formado por Vinícius Jr, Antony e Neymar. Os três deram ao ataque da seleção algo que vinha fazendo falta e que sempre foi a essência do futebol brasileiro: o drible. Na direita, Antony envolvia a marcação com a naturalidade de um habitué do Maracanã de outros tempos. Na esquerda, Vinícius Jr era insistente no mano a mano e nas tabelas com Neymar. O principal jogador do Brasil, por sua vez, fazia o que se espera de alguém talhado para ser protagonista da seleção. Voltava para buscar o jogo, armava, orientava o time.
Como não poderia deixar de ser, foi por intermédio dos três que o Brasil abriu sua vantagem no fim do primeiro tempo. Primeiro, com Neymar batendo pênalti. Depois, com o atacante do Paris Saint-Germain fazendo o corta-luz em passe de Antony para Vinicius Jr. chutar cruzado.
A seleção também teve outras boas notícias. Guilherme Arana estava em grande noite, jogando boa parte do tempo avançado – em determinados momentos, foi quase um meia pela esquerda. Paquetá foi outro que teve papel fundamental no ataque. Se na véspera o técnico Tite chegou a dizer que não gostava de usar o termo “falso 9” para se referir à posição de Neymar, a atuação de Paquetá contra o Chile nos 45 minutos iniciais veio para mostrar que o técnico resolveu seu problema semântico dando a função a dois de seus atletas.
Com dois gols de vantagem para o Brasil e com o Chile em desespero – a derrota significava adeus à Copa do Mundo -, a etapa final foi de futebol menos vistoso e mais pegado. Tite aproveitou para rodar o elenco, com Coutinho, Richarlison, Bruno Guimarães, Fabinho e Martinelli ganhando chance. Coutinho e Richarlison ainda ampliariam para o Brasil. No fim, o 4 a 0 com gols de um ex-flamenguista, de um ex-vascaíno e de um ex-tricolor carioca deixaram a despedida do Brasil no Maracanã ainda mais completa.
FICHA TÉCNICA
BRASIL 4 X 0 CHILE
BRASIL – Alisson; Danilo, Marquinhos, Thiago Silva e Arana; Casemiro (Fabinho), Fred (Bruno Guimarães) e Lucas Paquetá (Philippe Coutinho); Vinicius Jr. (Martinelli), Antony (Richarlison) e Neymar. Téc. Tite
CHILE – Claudio Bravo; Isla, Paulo Díaz, Enzo Roco (Montecínos) e Suazo; Medel, Baeza (Fernández), Aránguiz e Vidal; Alexis Sánchez e Vargas (Meneses). Téc. Martín Lasarte
GOLS – Neymar, aos 44, e Vinícius Jr, aos 45 minutos do primeiro tempo; Philippe Coutinho, aos 26, e Richarlison, aos 46 do segundo.
CARTÕES AMARELOS – Lucas Paquetá, Casemiro, Neymar, (BRA); Paulo Díaz, Claudio Bravo (Chile).
ÁRBITRO: Darío Herrera (ARG)
PÚBLICO – 69.368 presentes.
RENDA – R$ 6.577.230,00.
LOCAL: Maracanã, no Rio (RJ).
cbf