Após mais de 30 anos de embate político em Mato Grosso do Sul, o ex-ministro e ex-deputado federal Carlos Marun (MDB/MS), que recentemente deixou o Conselho da Itaipu Binacional e agora atua como assessor da Assembleia Legislativa na questão da ponte que será construída entre Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta (PY), deixou as divergências de lado e entrevistou no seu programa “Pesca & Amizade”, no seu canal no YouTube, o ex-governador Zeca do PT. Ele visitou a “Pousada Pantaneira”, que pertence ao petista e está localizada na foz do Rio Apa com o Rio Paraguai, no município de Porto Murtinho.
No bate-papo animado, que também contou com a participação da ex-primeira-dama do Estado, Dona Gilda Maria, que agora ajuda Zeca do PT na administração da pousada, Marun agradeceu o carinho e a hospitalidade dos anfitriões. “Esse momento do meu programa, a gente chama de roda de tereré, mas, agora estamos usando a hora do tereré porque não podemos fazer roda devido à pandemia do Covid-19, cada um com a sua bomba”, informou ao público que vai acompanhar a entrevista dele com o adversário político.
“Eu e o Zeca, por muitos anos, estivemos e estamos em grupos políticos separados, correntes políticas separadas. Como o meu programa não é só política, também vamos falar sobre pesca, mas cabe aqui uma mensagem que faço questão de falar. Na última vez que estivemos perto de uma eleição, foi quando os dois disputaram para deputado federal, com você sendo campeão de votos e eu sendo o vice-campeão, mas sempre tivemos em grupos separados, mas sempre houve respeito”, garantiu.
Carlos Marun reforçou que ele e o ex-governador sempre tiveram as suas divergências, pois o País não pode ter um pensamento único. “Aqueles que são adversários não podem se transformar em inimigos. É essa mensagem que eu deixo inicialmente. Quase 30 anos de divergência na política, mas de respeito pessoal e isso permite com que eu esteja hoje aqui com a minha equipe usufruindo da hospitalidade e do carinho dele neste lugar que é especialíssimo, desse lugar que é único”, afirmou.
O ex-ministro e ex-deputado federal fez questão de agradecer a Zeca do PT e a Dona Gilda pela forma como foi recebido na “Pousada Pantaneira”. “Também quero agradecer por nós termos sido respeitosos um com o outro e agradecer pela hospitalidade. Fizemos uma pescaria excepcional e, por isso, eu sempre digo: pesca e amizade é tudo de bom, por isso é o nome do meu programa”, brincou.
Já Zeca PT acrescentou que a diferença política e partidária não cabe neste momento. “Você sabe do enorme carinho que eu, Gilda e toda a minha família temos por você. Talvez seja até pela origem, pois você é gaúcho e eu e Gilda somos descendentes das primeiras famílias que vieram em 1895 para o Centro-Oeste e, particularmente, para o Mato Grosso, em busca de terra e de uma nova vida. Toda essa identidade gauchesca e tradicionalista nos permite separar política e preservar uma relação que, para mim, é profundamente gratificante”, falou.
O ex-governador confidenciou que a esposa lhe disse baixinho que o local onde fica a Pousada Pantaneira é um pedaço do paraíso cuidado por ambos. “Particularmente, eu e a Gilda cuidamos, com muita sensibilidade, com muito carinho, preservando o verde, preservando as nossas árvores frutíferas, as aves, os passarinhos, que diariamente são alimentados, e a nossa horta orgânica. Esses espaços permitem a nós receber famílias, com carinho e preocupação, para que tenham absoluta tranquilidade e possam usufruir daquilo que é mais abundante aqui: o turismo de pesca”, ressaltou.
Zeca do PT fez questão de reforçar que a pousada é essencialmente familiar. “Estamos em uma região que tem um potencial turístico e histórico, pois, por aqui, andaram os índios guaicurus. Em 1864, no início da Guerra do Paraguai, eles já estavam aqui, onde estamos sentados. Aqui tem um conteúdo histórico extraordinário com a presença dos guaicurus, com a colônia menonita de origem alemã, que veio para cá para se instalar em território paraguaio e que hoje é uma potência perto daqui e que sempre nos visita também”, informou.
Conteúdo histórico
Ainda de acordo com ele, o local tem potencial de pesca, o qual Marun teve a oportunidade de desfrutar, pois fisgou belíssimos exemplares de cachara e dourado. “O que mais nos agrada e que eu tenho de registrar é que você fez uma coisa para nós que é simbólica e importante, ou seja, fotografou e devolveu o peixe para o seu espaço. Para nós, o peixe tem muito mais valor dentro da água do que fora dela, mesmo nós servindo, tanto no almoço, quanto na janta, diariamente, o peixe, pois quem vem aqui quer comer peixe também”, pontuou, completando que o local tem esse conteúdo histórico, cultural e familiar que fazem a todos rejuvenescerem.
Carlos Marun lembrou que a origem dos familiares de Zeca do PT e Gilda Maria é o Rio Grande do Sul, de uma localidade chamada de “Rincão dos Miranda”, perto de São Borja (RS). “Hoje a sua família é tradicional aqui em Mato Grosso do Sul, mas como é essa história aqui da pousada? Eu lembro que você adquiriu para o lazer, porém, em um determinado momento, a transformou em um empreendimento turístico. Como foi isso?”, questionou.
O ex-governador relatou que a pousada tem 3 hectares e era de um grande empresário de Americana (SP), conhecido como “Sr. Manelão”, que, na década de 70, veio para a região e se apaixonou, comprando a fazenda e a transformando em um pesqueiro. “Em 1997, a pedido do Lula (ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva) e por articulação do Heitor (Heitor Miranda dos Santos, irmão e ex-prefeito de Porto Murtinho), nós viemos parar aqui com alguns amigos para pescar. No período que estávamos aqui, foi quando eu conheci o local, a mãe do Manelão, que já era uma senhora de idade, faleceu e ele foi de barco para Porto Murtinho, ainda de madrugada, para pegar o carro e ir para Americana, onde iria sepultá-la, o menino que veio avisá-lo, piloteiro de barco, inventou de voltar à noite e, com o rio cheio, caiu do barco e faleceu”, contou.
Manelão, prosseguiu Zeca do PT, se desencantou com o lugar, se aborreceu e resolveu vender no fim de 1997 e início de 1998. “Nós compramos isso aqui por R$ 40 mil. Isso aqui na verdade é um condomínio, que tem como donos eu, o Heitor, o Vander (deputado federal), Jorge Samek, que foi ex-diretor da Itaipu, o Jorge Ferreira, que foi do Feitiço Mineiro, de Brasília (DF), o finado Luiz Carlos Sigmaringa Seixas, que foi deputado federal, o Mauro Dutra e a Sâmara. Logo depois me elegi governador e não tinha para onde ir para descansar, comecei a vir para cá com as crianças e fomos arrumando devagarinho”, revelou.
Segundo o ex-governador, após oito anos, quando terminou o seu segundo mandato, chegou aos sócios e disse que teriam de vender o local, pois o espaço tem um custo e ele não teria mais como bancar. “A alternativa à venda era que eles passem a fazenda para mim, pois iria tocar uma pousada para eu sobreviver, pois só tenho a minha aposentadoria como bancário, não tenho pensão como ex-governador e não tenho aposentadoria como deputado. Imediatamente, transformamos isso aqui em uma pousada e é uma coisa que deu certo”, garantiu.
Hoje, conforme ele, praticamente sobrevive da pousada. “Recebemos os turistas com todo cuidado e preocupação. Temos um sistema de tratamento de água que é moderníssimo, também temos um sistema de tratamento de esgoto que não deixa nenhuma gotinha de esgoto cair no rio. Para nós, a preservação ambiental é fundamental, temos coleta seletiva do lixo, latas, garrafas e plástico são separados e depois são comercializados com recicladores. Praticamente, eu e Gilda moramos aqui, revezando com a filha, com os genros, uma coisa da família. Também temos uma piscicultura e avicultura em Dois Irmãos do Buriti (MS), sobrevivemos disso. Feliz da vida, muito, muito feliz”, assegurou.
Para Carlos Marun, é visível que o ex-governador está muito feliz com o empreendimento. “Não é para falar em política, mas tem hora que a gente tem saudades daquilo. Todo mundo fala que política é um deus nos acuda, mas tem hora que dá saudade. Mas vi que você não está com saudades, pelo menos por enquanto, mas vai que no ano que vem isso muda”, provocou, concluindo que são mais de 30 anos de divergência política, mas sempre trabalhando com respeito e é isso que temos de ter.
A ex-primeira-dama do Estado aproveitou para registrar o seu agradecimento pela oportunidade de receber na pousada o ex-ministro. “Não poderia deixar de registrar o papel que a tua figura, enquanto figura pública foi para nós e para a nossa cidade Porto Murtinho. Seu dedo e sua articulação política fizeram com que o nosso município tenha um outro momento, um momento de desenvolvimento, de progresso, de oportunidades para as nossas famílias, para as famílias dos nossos conterrâneos. Estou extremamente feliz de recebê-lo aqui, que seja um momento que marque na sua memória, no seu coração, o carinho e respeito que temos pela sua figura”, finalizou.
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