As investigações deflagradas com a Operação Mineradora de Ouro expuseram a conexão entre os conselheiros do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado) alvos da investida com empregados em firmas de tecnologia contratadas pela corte. A Polícia Federal suspeita que os funcionários seriam “fantasmas”, admitidos apenas para superfaturar os vínculos firmados com estas empresas e dissimular o pagamento de propinas.
A ligação mais evidente é a de Willian das Neves Barbosa Yoshimoto com o conselheiro Waldir Neves Barbosa. Embora seja advogado, Willian foi contratado pela Dataeasy Consultoria e Informática, em março de 2018, como administrador de redes e de sistemas computacionais.
Conforme as apurações policiais, a Dataeasy, com sede em Brasília (DF), foi a empresa que mais recebeu pagamentos do TCE-MS entre 2018 e 2020 – R$ 80,7 milhões. Somados aos valores pagos à sua filial em Goiânia (GO), os números saltam para R$ 106,4 milhões.
Willian Yoshimoto chegou a receber R$ 15.194,00 de salário, valor que nunca havia sido registrado pela empresa antes, para nenhum funcionário.
As investigações apontam que o advogado é filho de um primo de Waldir Neves, primo este que, por sua vez, é sócio da Mineradora Betione – empresa da qual um irmão do conselheiro, Vanildo Neves Barbosa, tem parte.
O parente de Waldir Neves depois trabalhou como analista de comércio eletrônico na Cast Informática S/A, outra contratada do TCE-MS, entre abril de 2015 e abril de 2018.
Outro indicativo da conexão de Willian com o conselheiro é a sua nomeação, em novembro de 2015, como procurador de um homem que seria responsável pela venda de imóveis rurais de Waldir Neves no estado do Maranhão. Prova disso é um e-mail, obtido pela Polícia Federal por meio da quebra de sigilos, no qual foi identificada a negociação de uma fazenda no valor de R$ 17 milhões. O intermediário recebeu R$ 52 mil do conselheiro entre 2010 e 2017.
Capataz em fazenda de esposa de conselheiro ganhou vaga em firma de tecnologia
Os investigadores também chegaram a Pedro Bedoglim Júnior, agente administrativo na Câmara Municipal de Campo Grande entre 2005 e 2012. Pedro foi contratado em maio de 2012 como capataz da fazenda de Mara Cleusa Ferreira Jeronymo, juíza do TRT24 (Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região) e esposa do conselheiro do TCE-MS Osmar Jeronymo.
Em março de 2015, Bedoglim Júnior foi admitido também como analista de comércio eletrônico na Cast Informática, com salários de R$ 5 mil – quando a média praticada no segmento é de R$ 2,3 mil.
Antes mesmo de se desligar da Cast, em abril de 2018, o capataz da propriedade da esposa de Osmar Jeronymo foi contratado pela Dataeasy, em março, como administrador de redes e de sistemas computacionais.
Outra pista que liga Pedro ao conselheiro é uma nota fiscal da compra, por Jeronymo, de um veículo Toyota SW4, por R$ 178 mil, em março de 2015. Consta no comprovante o endereço de e-mail do rapaz.
Filhos de ex-secretários de Estado também foram empregados
A Polícia Federal ainda relatou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) a contratação pelas prestadoras de serviços ao TCE-MS de diversas outras pessoas com vínculos profissionais ou parentesco com conselheiros do tribunal ou políticos do Estado. Os admitidos não teriam qualquer formação ou experiência em Tecnologia da Informação.
Entre os supostos “fantasmas” está Isabela Pires Giroto, filha do ex-secretário de Estado de Infraestrutura Edson Giroto – em prisão domiciliar após ser condenado em processo derivado da Operação Lama Asfáltica.
Outro beneficiado é o advogado Lucas Gandolfo Hashioka, filho do ex-titular da SAD (Secretaria de Estado de Administração e Desburocratização) e do Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito) na gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB), Roberto Hashioka.
Também ganharam empregos nas contratadas pelo TCE-MS Mara Regina Bertagnolli de Gonçalves, ex-secretária do ex-governador André Puccinelli e absolvida em ações penais da Lama Asfáltica. Bem como Lidiane Serpa Gonçalves, ex-assessora parlamentar da ex-senadora e ex-conselheira Marisa Serrano.
Além destes, a investigação cita Fernando Jeronymo Serra, Elieth Rosa Possari, Danilo Deivid dos Santos e Claudia Mara Tumelero Gomes como beneficiados com vagas nas firmas de tecnologia com algum vínculo a conselheiros ou políticos.
Operação Mineradora de Ouro
Deflagrada ontem (8), a Operação Mineradora de Ouro levou Polícia Federal, CGU (Controladoria-Geral da União) e Receita Federal às ruas para cumprir 20 mandados de busca e apreensão, em Campo Grande, Sidrolândia e Brasília. As medidas foram autorizadas pelo ministro do STJ Francisco Falcão.
A investigação mira favorecimento de terceiros por servidores públicos, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, fraude em licitação, superfaturamento e contratação de funcionários “fantasmas”. O balanço divulgado revelou R$ 1,6 milhão apreendido. Além de Waldir Neves e Osmar Jeronymo, o conselheiro Ronaldo Chadid também foi alvo da investida.
O TCE-MS ainda não se manifestou oficialmente sobre o caso.
mdx