Pesquisadores do Projeto Corredor Bioceânico da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) percorreram o trajeto de Porto Murtinho a Campo Grande e constataram dificuldades para o desenvolvimento da agricultura familiar nos municípios que abrangem a rota.
A equipe que realizou a avaliação do trajeto é composta pelos pesquisadores Edgar Aparecido da Costa do Campus do Pantanal (CPAN/UFMS), responsável pelo desenvolvimento de estudos no Eixo de Economia voltado para agricultura familiar, e Eronildo Barbosa, responsável pelo Eixo de História do Projeto Corredor Bioceânico.
De acordo com os pesquisadores, em uma das bancas de agricultura familiar encontradas no trajeto, são comercializados produtos como abacaxi e melancia, produzidos no Assentamento Santa Terezinha, localizado às margens da BR-060, entre Sidrolândia e Nioaque.
O pesquisador Edgar Costa explica que um dos pontos identificados foi a sazonalidade do comércio de produtos agrícolas no decorrer da rodovia. “Nós encontramos muitos pontos com bancas de agricultura familiar, mas que não estavam abertas porque só funcionam em épocas específicas e quando há excedente na produção”, destacou via assessoria.
Em decorrência da pandemia da Covid-19, foi registrada uma redução na procura dos produtos. Durante o trajeto os pesquisadores encontraram um ponto fixo próximo a Sidrolândia, no local são vendidos produtos como doces, pimenta, abóbora, queijo, manteiga e produtos artesanais, oriundos do Assentamento Santa Mônica. Um levantamento preliminar apontou que, em determinados municípios, os produtos da agricultura familiar são destinados para feiras e outros estabelecimentos e não há pontos de vendas na rodovia.
Edgar Costa destaca que o projeto prioriza a sustentabilidade. “Nosso objetivo com essa pesquisa é contribuir para a construção de um Plano de Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável. E esse planejamento tem que considerar qual é o contexto e o perfil desses pequenos agricultores, se o modelo atual será fortalecido ou prejudicado com a rota, e também se há outras possibilidades para esses produtores”, afirmou via assessoria.
Outro desafio identificado na viagem foi o avanço do agronegócio sobre regiões da agricultura familiar. Conforme a assessoria, a região do Alto Caracol registrou uma redução significativa no número de pequenos produtores devido ao avanço da produção de milho e da soja.
“Por outro lado, Alto Caracol se mostrou como uma localidade com grande potencial para investimentos em silos, armazéns, postos de combustíveis, hotéis, restaurantes, lojas de artesanatos, dentre outros. Possui posição geográfica estratégica na rota bioceânica e pode funcionar como um hub logístico rodoviário com atração de mercadorias dos municípios de Caracol, Bela Vista, Antônio João e das estâncias e assentamentos do Paraguai, na fronteira com o Brasil”, ressaltou o pesquisador.
Edgar Costa avalia que um dos maiores desafios para o desenvolvimento da agricultura familiar no percurso da rota é a manutenção dos jovens no meio rural. “A população rural está ficando muito velha, com reduzida força de trabalho para ser competitiva no mercado. É preciso pensar alternativas de geração de renda, acesso às informações, conectividade com o mundo urbano e com outros jovens camponeses. Tem-se que reforçar o sentimento de pertencimento ao rural e criar mecanismos de estimular as ruralidades de modo a elevar a autoestima do agricultor e seu reconhecimento”, explicou via assessoria.
Para o historiador Eronildo Barbosa, a análise possibilitou a identificação de diferentes grupos sociais impactados pela rota bioceânica. “Tivemos a oportunidade de conhecer uma parte dos pequenos comerciantes e assentados da reforma agrária, que precisam e vão participar do processo de riqueza que esse projeto vai gerar”, destacou via assessoria.
Segundo o pesquisador, o intuito do projeto é ampliar oportunidades e conhecer as dificuldades dos ‘atores econômicos mais vulneráveis no processo produtivo’, visando contribuir para a elaboração de políticas públicas destinadas a agricultores familiares.
“Encontramos pessoas que estão desconfiadas sobre a concretização do projeto e também aqueles que estão acreditando que a rota vai trazer progresso e desenvolvimento. Foi uma radiografia do instante, um passo importante para entender como está organizado o processo produtivo na região sudoeste e quais são as relações de produção”, finalizou Eronildo Barbosa via assessoria.
O Projeto Corredor Bioceânico da UFMS é constituído a partir de recursos destinados por meio de emenda parlamentar do deputado federal Vander Loubet (PT/MS). O projeto de pesquisa e extensão é coordenado pelo Prof. Dr. Erick Wilke, da Escola de Administração e Negócios (ESAN/UFMS).
esan/ufms