A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) está com inscrições abertas para o concurso que vai premiar os cem melhores produtos de peças artesanais de referência cultural sul-mato-grossense. O objetivo é manter a cultura viva e em circulação em tempos de restrições impostas pela pandemia da Covid-19.
A artesã Elizete Barros Vieira não perdeu tempo e já se inscreveu no concurso. Ela trabalha com artesanato há 28 anos e o que a motivou a se inscrever no edital é o reconhecimento do seu trabalho: “É uma peça que vai agregar valor aos olhares, essa peça vai estar exposta em algum local onde as pessoas possam ter acesso e ver o seu trabalho. Nem tanto pelo prêmio, mais pelo trabalho mesmo, pela criação, aquilo que você faz com muito amor e dedicação. É o reconhecimento das pessoas, de conhecer o seu trabalho. Eu fico muito grata porque é uma oportunidade de essa peça ser reconhecida e falar o nome da gente naquela peça. É isso que faz a diferença. Então eu fico muito feliz em participar, muito mesmo. É uma oportunidade que nos foi dada”.
Elizete sempre via os editais da Fundação de Cultura como algo difícil de participar, mas este concurso a fez mudar de ideia. “Eu sempre via os editais que a Fundação lança, mas eu achava que era um bicho de sete cabeças. Porém, como houve essa oportunidade de premiação, de doar essas peças, aí eu pensei: poxa, agora é a minha oportunidade de me inscrever e vi que, entrando no edital, era tão fácil, não tinha, assim, aquela burocracia, é só questão de você ter tempo e se dedicar. E aí, juntamente com meu esposo, a gente leu tudo certinho e aí eu criei essa peça com muito amor e carinho para poder participar”.
Elizete, cujo nome artístico é Beth arte sul-mato-grossense, retrata a nossa cultura no seu trabalho por meio das nossas aves do pantanal, das onças, araras, tucanos, que ela retrata nos banquinhos. A peça que está concorrendo no concurso é um remo duplo, um para cima e um para baixo, com um metro e meio de comprimento, uma peça única, com moldura.
Ela incentiva outros artesãos a participar do concurso: “Eu estou muito feliz em participar desse edital e gostaria que vocês artesãos também participassem, porque é uma oportunidade de vocês serem reconhecidos com o trabalho de vocês. E isso é muito importante porque vai ficar no arquivo da Fundação e todos que olharem o link da Fundação vão ver o trabalho de vocês não só aqui em Campo Grande, mas em nível nacional, porque tem pessoas que entram em vários links sobre cultura, os compradores, lojistas, e vai estar vendo o seu trabalho lá e é um incentivo para você ser reconhecido. Muitas vezes você acha que o seu trabalho não tem conhecimento, que as pessoas não conhecem ainda, agora é a hora de vocês participarem. É uma oportunidade única”.
Anselma Vitorino da Silva Leodério considera o edital uma forma que a Fundação de Cultura encontrou em ajudar os artesãos neste momento de pandemia. “A minha motivação em participar é que a gente vê o empenho da Fundação de Cultura, do Governo, em ajudar. O que motivou foi a necessidade que a gente está passando no momento, que o dinheiro vem para ajudar para comprar matéria-prima, nessa época de pandemia a gente não tem feira, e esse apoio que o governo dá é ótimo. Agora a gente está tendo essa oportunidade de ser reconhecido como artesão, porque antigamente você não ouvia falar do artesão, o artesanato era como um hobby, não era pela profissão. E a nossa família ela vive do artesanato, o que a gente tem foi construído com o artesanato”.
Anselma é artesã há mais de 20 anos, é filha dos artesãos Ana Vitorino e do José Benedito, tinha 12 anos quando começou a trabalhar com seu pai. Hoje a família tem uma oficina na região de Miranda e todos incentivam outros artesãos a se inscreverem. “Esse edital que saiu eu achei uma oportunidade pra gente inscrever as pessoas que trabalham junto com a gente, para estar encaminhando, porque cada um tem a sua criatividade, então a gente não faz sozinho, a gente tem uma parceria em que cada um tem um processo dentro da nossa oficina”.
Para a artesã Andrea Lacet, a Fundação de Cultura é uma referência, e ter uma obra selecionada e exposta pela instituição é um reconhecimento do seu trabalho como artesã: “O que me motivou a me inscrever, primeiro, foi a vontade de ter uma obra minha como referência. Em segundo lugar, a própria questão financeira. Com a ausência das feiras interestaduais nosso rendimento caiu. O público em geral que adquiria artesanato está elegendo os itens básicos de sobrevivência para adquirir”.
Andrea é artesã desde 1995 e começou a trabalhar com esculturas em cerâmica, de forma clássica, e depois aprendeu sobre queima, esmaltação e foi se apaixonando mais pela cerâmica. Criou as peruas de cerâmica, bonecas caricaturadas inspiradas em figuras do cotidiano. Ao longo do tempo foi se profissionalizando, entendendo o valor do artesanato e começou a participar das feiras interestaduais. Foi se especializando nas bonecas, figuras femininas, que continuam sendo chamadas de peruas. “Essa peça com a qual eu me inscrevi e vou participar do concurso é uma perua que eu chamo de tererezeira, porque ela é uma boneca baseada na figura pantaneira da mulher, da morena, e com a cuia de tereré, com o chapéu pantaneiro, com a cinta paraguaia, enfim, com vários traços da nossa cultura, e ela é uma peça autoral”.
A artesã fez uma formação em Design de Interiores para ter um diploma dentro da área artística e ser mais qualificada. Hoje dá aulas de cerâmica, participa de todos os eventos artesanais que existem em Mato Grosso do Sul, e procura sempre estar envolvida. “Tenho na Fundação de Cultura um parceiro maravilhoso, porque em tudo a gente tem auxílio”.
As inscrições para o concurso vão até o dia 22 de agosto. Importante destacar que as obras inscritas devem ser elaboradas e executadas individualmente por pessoas físicas que, comprovadamente, sejam artesãos do Estado de Mato Grosso do Sul há pelo menos 2 (dois) anos. O valor bruto da premiação é de R$ 2.000,00 (dois mil reais).
Para saber os documentos exigidos e ter acesso à ficha de inscrição, acesse o edital na íntegra, clicando aqui.
Karina Lima, FCMS
Fotos: Acervo das artesãs