Conselheiro afastado do TCE guardava mais de R$ 1,6 milhão em espécie dentro de malas

Corregedor-geral do Tribunal de Contas do Estado, o conselheiro Ronaldo Chadid tinha o hábito de guardar dinheiro em casa e realizar compras em espécie, sem passar por agência bancária. Afastado do cargo e monitorado por tornozeleira eletrônica, o advogado disse à Polícia Federal que a estratégia foi adotada para não elevar o valor da pensão paga às ex-mulheres.

Conforme o despacho do ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça, Chadid tentou explicar a origem de R$ 1,6 milhão. Parte do dinheiro, R$ 660 mil, estava em uma mala na casa da chefe de gabinete, Thaís Xavier. Outros R$ 889,6 mil estavam dentro da casa do conselheiro.

O caso chamou a atenção do ministro, que determinou o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Operação Terceirização de Ouro, denominação da 2ª fase da Mineração de Ouro. Chadid foi alvo das duas operações deflagradas pela Polícia Federal e é suspeito de venda de sentença na corte fiscal.

“Os argumentos apresentados pelo Conselheiro, no sentido de ter por hábito guardar dinheiro em casa e que os valores seriam economias acumuladas ao longo da vida, não são hábeis a comprovar a proveniência lícita do dinheiro apreendido”, frisou o ministro, ao analisar a conversa do conselheiro do TCE com o delegado Marcos Damato, da PF.

Chadid contou que foi delegado de polícia, promotor de Justiça, procurador do Ministério Público de Contas e conselheiro do TCE. Paralelamente, ele exercia a função de professor. Ele gabou-se de ter sido o responsável pela implantação de seis cursos de Direito no Estado.

Um caso curioso é que a Faculdade Insted registrava o pagamento oficial de R$ 1,8 mil a R$ 2,5 mil por mês. O principal valor era pago por fora, em dinheiro vivo entregue em envelopes pela Fundação Manoel de Barros. A entidade e a faculdade são da família do ex-senador Pedro Chaves.

Após ter o dinheiro apreendido pela PF, o conselheiro procurou a faculdade e foi informado que eles poderiam declarar R$ 286 mil entregues como pagamento complementar de salário nos últimos três anos.

Além da docência, Chadid revelou que se tornou um investidor no programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. Ele chegou a construir cinco casas. O conselheiro chegou a dizer que é quase dono de uma imobiliária com tantos imóveis para administrar.

Além de guardar uma fortuna em casa, o conselheiro tinha o hábito de realizar compras à vista, inclusive um carro por R$ 80 mil, um imóvel e a reforma do apartamento. Falcão destacou que foram R$ 360 mil pagos em espécie entre dois mseses.

“Dr., não declarei porque eu tenho 3 (três) ex-mulheres, né? Pagava 5 (cinco) pensões alimentícias, hoje pago 4 (quatro). Todo ano sou procurado pra fazer revisão das pensões, em que pese, eu pagar estudo, pagar Unimed, suprir todas as necessidades, mas 2 dessas ex-mulheres sempre buscam revisão, né? Então, era uma forma também de eu me preservar”, justificou-se.

Outro fato destacado pela PF é que o dinheiro encontrado na mala da chefe de gabinete estava em envelopes com nomes, como do presidente do TCE, conselheiro Iran Coelho das Neves, que também foi afastado na Operação Terceirização de Ouro. Outro estava para “com urgência, 20, para Júlia”. Chadid explicou que levava serviço para casa e acabava reaproveitando os envelopes para colocar o dinheiro.

Apesar da fortuna ter sido acumulada ao longo de 27 anos, a polícia não encontrou notas antigas debaixo do colchão de Chadid. Ele disse que sempre renovava o “estoque” para não ter problemas.

“Causa enorme estranheza, seja sob o enfoque da questão da segurança ou no tocante à rentabilidade proporcionada por investimento em instituição financeira, a manutenção de vultosa quantia de dinheiro em espécie armazenada de forma precária, acondicionada em malas, e em poder de terceiros”, anotou o ministro Francisco Falcão.

Chadid é investigado junto com Iran Coelho e o ex-presidente do TCE, Waldir Neves Barbosa. Eles foram afastados do cargo por 180 dias, não podem manter contato com outros investigados nem frequentar a corte fiscal. Para garantir o cumprimento das medidas, o ministro mandou colocar tornozeleira eletrônica.

 

 

oj

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