Fim impactante de ídolos no auge, gera choques de realidade em quem dá mais valor ao ´´ter“ do que ´´ser“
“ Com a morte bem à sua frente, você entende o verdadeiro significado de estar vivo”, diz um personagem do mangá japonês ‘Alice in Borderland’, transformado em série pela Netflix.
O desaparecimento abrupto de jovens artistas, no auge da produtividade e com a tal ‘vida inteira pela frente’, salienta o quão frágil e vulnerável somos.
Vivemos à deriva de algo, que alguns chamam de destino, sem a certeza de até onde iremos. Juventude e finitude são incompatíveis na teoria, mas se impõem juntas a muitos de nós.
Neste penoso 2021, a lista de ídolos mortos precocemente é tão extensa quanto dolorosa. Entre eles, o humorista Paulo Gustavo (42 anos), o ator Leo Rosa (37 anos), o sertanejo Maurílio (28 anos), a rainha da sofrência Marília Mendonça (26), o funkeiro MC Kevin (23), a atriz Mabel Calzolari (21).
Estavam entre nós e, de repente, partiram. O choque inicial logo abre brecha para questionamentos. “Quanto tempo ainda tenho? O que estou fazendo da minha vida? Como começar a viver intensamente e não apenas existir?”
Para o psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung, “até onde conseguimos discernir, o único propósito da existência humana é acender uma luz na escuridão da mera existência”.
A morte desses ídolos pode ser um farol de consciência a quem vive na ilusão de que tem todo o tempo do mundo e dá mais importância ao acúmulo de bens do que ao cultivo de sentimentos.
Serve de consolo o fato de terem experimentado o que tantos desejam e poucos conseguem: fama, sucesso, status, aceitação pública. No entanto, continuaram suscetíveis ao imponderável como qualquer sonhador anônimo, e agora são exemplos da fragilidade humana.
Na música ‘The Good Part’, a banda de indie-pop americana AJR reflete a respeito. Diz um trecho: “Se há uma boa parte (da vida), então… Espero que não esteja longe, porque… Achei que seria hoje… É tão difícil… Podemos pular para a parte boa?”
Cabe a cada um de nós fazer desse exato momento a melhor parte de sua vida. O ‘depois’ pode não existir. Filósofo no Império Romano, Sêneca registrou uma sugestão. “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.”
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