Juros altos nos EUA preocupam produtores americanos e alerta reverbera no Brasil

Um estudo feito por economistas agrícolas das Universidades de Illinois, Gary Schnitkey e Nick Paulson, e Ohio, Carl Zulauf, trouxe alertas para os produtores rurais norte-americanos: preparem-se para um longo período de taxas de juros elevadas e refaçam seus planos e estratégias. Em um rápido paralelo traçado com o Brasil, em linhsa simples, os alertas são os mesmos e as preocupações deveriam estar triplicadas e o produtor já revendo e reformulando seus modelos de gestão, como explica o economista chefe da Farsul (Federação de Agricultura dos Estados Unidos), Antônio da Luz.

O intervalo da taxa de juros nos Estados Unidos está projetado pelas autoridades do Federal Reserve entre 5% e 5,5%, o que deverá deixar o crédito todo “mais caro” no país. A extensão das dificuldades, todavia, só poderá ser mensurada, ainda de acordo com os especialistas, ao se conhecer por quanto tempo as taxas seguirão em patamares elevados. O que já se sabe, porém, é que o período a frente deverá ser de taxas mais elevadas do que entre os anos de 2008 a 2021.

“No geral, os agricultores devem esperar taxas de juros mais altas do que as existentes de 2008 a 2021 e planejar de acordo”, disseram os três economistas.

Os três principais impactos desta altas nos juros para a agricultura norte-americana, portanto, são: “1) custos crescentes dos recursos de capital da dívida; 2) pontos de equilíbrio mais altos para a cobertura de investimentos; 3), pressão sobre o valor da terra”.

Para o Brasil, o quadro não é diferente e com o país dando início a um novo momento político e econômico, a atenção tem que ser redobrada. Ainda como explicou Da Luz, é necessário considerar também o fato de a economia dos EUA ser mais madura e, consequentemente, de uma consciência diferente de sua população sobre a utilização do recurso de terceiros.

“Em um momento de juros altos, diminuir a utilização do recurso de terceiro, diminuir a alavancagem deixa de ser uma recomendação e passa a ser necessidade. Necessidade para sobrevivência”, diz. “O produtor brasileiro ainda trabalha com ‘incentivos’ do passado’ e isso precisa mudar, porque já não funciona mais. Ele precisa entender que o dinheiro do Plano Safra não é um dinheiro público, que a parte controlada dos recursos é cada vez menor e que a maior é livre”, diz.

E com este passado é que o economista faz o alerta para um futuro próximo. A atual taxa Selic é de 13,75%, porém, com projeções que seguem crescendo. As últimas edições do Boletim Focus, desde que as eleições presidenciais se definiram em 30 de outubro, seguem trazendo indicativos para a taxa básica de juros que não param de crescer no horizonte relevante. Ele afirma ainda que há os economistas que chegam a apontar a taxa em 15%, até 16%, porém, ainda segue cauteloso. “Acho cedo para apostarmos em uma alta como essa, mas também estou revisando minhas projeções para cima, porém, ainda não superando os 13,75%. Ao menos, por enquanto”, explica.

O recado, portanto, é claro: uma mudança gerencial é mais do que necessária. E com urgência. A teimosia da inflação, embora tenha sido controlada em 2022, pode garantir o espaço necessário para o aumento das taxas de juros, o que implicaria diretamente, por exemplo, em taxas mais altas também dispostas no novo Plano Safra, o qual deve ser divulgado – como tradicionalmente acontece – entre junho e julho deste ano.

O objetivo é estimular que o produtor rural brasileiro – valendo-se, inclusive, dos alertas feitos aos colegas norte-americanos que têm de lidar com uma taxa de juros quase três vezes menores do que a do Brasil – repensem a utilização dos recursos de terceiros e se planejem para, cada vez mais, estarem capitalizados, garatindo safras feitas com um percentual saudável de recursos próprios.

“E isso tem que acontecer mesmo que seja a custo de crescer menos. Trata-se, mais uma vez, de uma questão de sobrevivência”, afirma Antônio Da Luz, que complementa dizendo que toda essa orientação vale, inclusive, para as operações que são feitas também com cooperativas, tradings e revendas de insumos, por exemplo. “Ali também estão colocados os juros, ele também está tomando dinheiro no mercado”.

Dessa forma, o economista recomenda também que o exercício das análises de viabilidade econômica que deverão ser cada vez mais presentes entre as propriedades rurais, como mais uma forma de se prevenir dos obstáculos que podem surgir nos caminhos que estão sendo definidos pela nova equipe econômica do governo Lula, especialmente sob o comando do atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Em entrevista ao Notícias Agrícolas, a economista e consultora econômica Zeina Latif, ao trazer suas projeções para 2023 reforçou as possibilidades de que o ano será desafiador. “Não vai ter vida fácil para o Banco Central (…) Ainda olhamos para uma inflação muito teimosa, e isso sugere que o BC deverá ficar por um bom tempo ainda com a taxa de juros elevada”, diz. “E adiciona-se a esta inflação teimosa esse risco fiscal relevante, que pode fazer com que, de fato, possa demorar a termos uma taxa de juros civilizada no país”.

As taxas de juros elevadas, mais do que isso, ainda afastam os investimentos e esta pode ser mais uma preocupação para o agronegócio e não só. “Se tivermos uma agenda econômica estruturada, a taxa de juros é um elemento para a decisão de investimentos, não o único. O quanto ela irá atrapalhar vai depender da qualidade da agenda econômica do novo governo”, explica a consultora.

A inflação apurada pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) encerrou 2022 com a menor taxa anual em cinco anos. No entanto, de acordo cokm o o economista responsável pelo indicador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Fundação Getúlio Vargas), André Braz, a continuidade do recuo inflacionário não é uma garantia.

Braz afirmou que o futuro dos índices inflacionários será um reflexo das medidas e decisões do novo governo, em especial na área fiscal, em especial quando impactarem o mercado cambial. “Para 2023, não é certo que os IGPs mantenham trajetória de baixa de preços. O dólar está muito volátil. Creio que hoje o viés [de trajetória dos IGPs] é de alta”, disse ao Valor.

 

 

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